«Tenho ouvido, sempre que possível, os debates nos órgãos de comunicação social sobre as falhas nas urgências e os serviços encerrados por falta de pessoal. Há duas coisas que retive destes debates e que me parecem óbvias e fáceis de pôr em prática. A primeira é dar muito mais responsabilidade aos órgãos de gestão dos hospitais e das unidades de saúde. Para gerir, para contratar, para organizar. A segunda tem a ver com as remunerações. Como é possível que um tarefeiro, contratado a uma empresa privada de recursos humanos para suprir a falta de pessoal dos hospitais, possa ganhar à hora muito mais do que os médicos do quadro desse mesmo hospital? É tão absurdo que nem sequer a velha explicação de que se trata das regras da concorrência consegue justificar. Ao mesmo tempo, o ministério queixa-se de que muitas das vagas abertas por concurso ficam por preencher.
Depois, há a velha questão das remunerações. Porque é que os médicos não podem ganhar tanto como os juízes? Ou mais do que outros quadros superiores da função pública? É como os pilotos, que ganham imenso porque exercem uma profissão desgastante e extremamente exigente. Haverá alguma profissão mais exigente do que a dos médicos? Porque é que não ganham por mérito e por capacidade? Seria, talvez, útil romper com o tabu da igualdade.»
Teresa de Sousa
Newsletter do Público, 14.06.2022
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