«O Governo tomou posse em março. O Orçamento do Estado para 2022 foi apresentado e discutido entre abril e maio deste ano. A guerra na Ucrânia já durava, os avisos sobre a escalada de inflação que alarmaram as economias da União Europeia também já davam sinais desde o ano passado, bem como o anúncio de que o Banco Central Europeu deixaria de cobrir o financiamento da dívida soberana portuguesa, que é a terceira mais elevada da UE.
Sabia-se também da insatisfação dos portugueses com o serviço prestado pelo Estado social em áreas como a Saúde e a Educação. Também não é de ontem haver cada vez mais investidores a apostarem em novos colégios e hospitais privados. Fazem-no porque sabem que há procura e acreditam no retorno do investimento. E há procura porque as famílias têm hoje novas expectativas e necessidades, para as quais não encontram a resposta que esperam.
A realidade é que hoje muitos trabalhadores que podem suportam dois serviços de saúde e dois serviços de educação. Pagam-nos através dos impostos, e depois através do rendimento que têm após os impostos que pagam.
Mais violento. Para quem não pode sobra o Estado que temos, que vai enfraquecendo porque também médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico têm hoje oportunidades de carreira mais aliciantes fora do Serviço Nacional de Saúde, desfalcando-o e empobrecendo-o.
Quando António Costa apresentou ao país a sua proposta de Orçamento esta realidade já existia. Os indicadores estavam todos lá. O país é o mesmo, com a diferença de que as pessoas ainda não sentiam a dor dos sintomas.
O Orçamento aprovado este ano foi, por assim dizer, um ato de fé de que Portugal e o Mundo eram os mesmos de 2015. Mas não são.
Se uma maioria absoluta não serve para encarar e agir sobre esta realidade, então para que serve?»
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