A Big Tech
“Por que é que a NATO precisa de integrar não só a Finlândia, mas também o Google”, escreve o israelita Shlomo Kramer, grande empresário de segurança informática, na revista Fast Company.
Explicita no subtítulo: “Se quereis a paz no mundo, pensai menos na Inglaterra, na França e na Alemanha, e mais no Google, Apple e PayPal.”
Kramer tem um argumento forte. Os colossos do Silicon Valley têm uma capitalização análoga à de países do G7: a Apple tem uma capitalização de 2,18 biliões de dólares, enquanto o PIB italiano é de 1,9 biliões.
Mais: “As multinacionais que geram grande parte do nosso crescimento económico têm a capacidade tecnológica – para não falar do orçamento – para projectar e promover o tipo de dissuasão rápida e eficaz que nenhum governo consegue facilmente fornecer.” As grandes empresas são capazes de fazer melhor e muito mais depressa. E têm, de facto, maior liberdade de acção perante a lei.
Dá o exemplo do PayPal. Quando esta plataforma de pagamentos digitais suspendeu a actividade com a Rússia, o golpe para muitos operadores de comércio electrónico russo foi mais forte do que qualquer outra sanção. Outro exemplo conhecido é o facto de Elon Musk ter ligado à Ucrânia a sua rede de satélites Starlink, com um papel efectivo no campo de batalha.
Seria chocante a ideia de ver os CEO das mega-empresas sentados à mesa do G7, ao lado do Presidente americano ou do francês, ou reunidos com os comandantes militares.
O que Kramer anuncia é uma era de muito maior de interpenetração entre o Estado e a Big Tech, coisa que a China faz metodicamente. O Google acaba de renovar um gigantesco contrato com a Agência de Segurança Nacional americana (NSA).
Conclui em tom algo idealista, mas extremamente actual perante a barbárie reinante. “Aquilo de que precisamos não é de maiores investimentos na segurança informática. Sugerimos uma nova Convenção de Genebra sobre os limites aos objectivos da guerra informática, como hospitais, casas de repouso ou escolas. (…) A Big Tech é orgulhosa de ter transformado todas as indústrias. Chegou o momento de aprender a revolucionar a guerra.”
A geopolítica não desaparece, pelo contrário: ganha novos actores e actores privados. Um futuro inquietante.»
Jorge Almeida Fernandes
Excerto da Newsletter do Público (16.06.2022)
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