22.7.22

Salvar o gás e o inverno dos ricos

 



«Não passaram muitos anos desde que o ex-ministro Matos Fernandes defendeu que uma família de quatro pessoas podia viver com uma potência de energia contratada de 3,45 kVA, e, desse modo, dar um bom exemplo de eficiência energética. A sugestão, discutida em sede de Orçamento do Estado, gerou polémica. Por exemplo, com os 3,45 kVA não é possível usar simultaneamente dois discos de uma placa de indução ou pôr a funcionar ao mesmo tempo uma máquina de lavar roupa e outra de louça. A Deco não teve dúvidas: "O Governo está a pedir aos portugueses que abdiquem de qualidade de vida e de conforto".

Mas estes conselhos de alcance e resultados duvidosos repetem-se. Eis que na apresentação da proposta da Comissão Europeia para reduzir 15% no consumo de gás na União Europeia entre 1 de agosto e 31 de março de 2023, o Executivo comunitário "encoraja os lares de toda a UE a contribuir para este exercício social de poupança de energia". "Encoraja" é mesmo uma boa palavra.

Quais são então as recomendações do vice-presidente Frans Timmermans? Não ter o ar condicionado tão baixo no período de calor, baixar o aquecimento no inverno, secar a roupa ao ar livre e melhorar o isolamento das casas quando for possível.

Percebe-se que Timmermans está a falar para o Centro e Norte da Europa. Não apenas porque os europeus que lá residem dependem mais do gás russo, mas porque são mais abastados. Entende-se também que esta Europa andará sempre a velocidades diferentes. E depreende-se ainda que há quem entre o Executivo comunitário nunca tenha experimentado o rigor do inverno num país como Portugal, onde aquecimento central, máquinas de secar roupa e isolamento das casas não são só um luxo. São miragens.

São apenas conselhos, é verdade, até porque o plano europeu para poupar energia no inverno não propõe racionamentos aos lares, que entram dentro da definição de "clientes protegidos".

Certo é que Vladimir Putin vai ser a verdadeira nuvem negra durante o inverno e que todos os europeus vão pagar as faturas. E, muitos, continuar a ter frio.»

.

0 comments: