6.10.22

A paisagem da incerteza

 


«Tudo o que é hoje vida política do país significa incerteza para os portugueses.

Os portugueses sabem que perdem poder de compra, mas não sabem como e quando termina a praga da inflação. Os portugueses sabem que a fatura energética vai duplicar e sabem que a Euribor faz subir vertiginosamente a prestação da casa, mas não sabem o que está a ser feito para travar a tendência e muito menos quando se inverterá a tendência.

Os portugueses sabem pelo Governo que, por "prudência orçamental", a lei deixou de ser para cumprir. E que, por isso, os aumentos de salários e pensões estão longe de acompanhar o aumento do custo de vida. Mas talvez se questionem por onde andou semelhante "prudência orçamental" quando se decidiu injetar três mil milhões de euros numa empresa que foi renacionalizada para agora se vender.

As famílias sentem que pouca folga têm para acudir a quem mais precisa, mas reparam que, curiosamente, há governantes que têm sempre familiares que são empresários de sucesso nas suas relações económicas com o Estado.

Pode ser um olhar populista, certo, mas a perceção que se cria instala-se como um manto negro. E é este quadro que ajuda a perceber o resultado da última sondagem JN/DN/TSF. António Costa, segundo os inquiridos, hoje não conseguiria formar governo. A direita do PS seria maioritária, o PSD de Montenegro cresce ao centro e aproxima-se do PS, IL e Chega resistem, PCP e BE vivem o trauma existencial pós-eleições legislativas e somam 7%, bem longe dos 20% da geringonça.

Em suma, a tendência eleitoral é de mudança e é produzida no espaço moderado que o PS está a perder.

Belém vê isto tudo e melhor do que ninguém sente a mudança da paisagem política nacional.

O 5 de Outubro do presidente da República serviu para afinar o tiro, e apontar à "qualidade da Democracia". A mensagem foi bem audível: é a opacidade que mata a Democracia. Marcelo Rebelo de Sousa sabe que incerteza gera insegurança. E é por isso que sobe a parada da fiscalização ao Governo. Dia sim, dia não, exige transparência e informação crua e atempada.

Esta parece ser a nossa certeza: de Belém sabemos que em Democracia haverá sempre alternativa. E não foi por acaso que o presidente relembrou vezes sem conta o ano de 1922, quando movimentos populistas e golpes acabaram por gerar ditaduras um pouco por toda a Europa. É um alerta ao Governo, um alerta contra os radicalismos de alguma Oposição, mas sobretudo um aviso contra eventuais abusos de poder.»

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