27.10.22

“Querem competir com o Chega? Têm de crescer muito, ó meninos!”

 


«A mais recente obsessão de António Costa é espalhar a notícia de que a Iniciativa Liberal está a caminho de se transformar em qualquer coisa parecida com o Chega. Disse-o no dia seguinte a João Cotrim de Figueiredo ter anunciado a saída da liderança e insistiu no debate do Orçamento do Estado, depois de uma intervenção dura do ainda líder da IL: “Quando quer competir com o deputado André Ventura, fica aquém, não consegue. Compreendo que queira dar voz a outro que se possa assemelhar mais ao deputado André Ventura.”

A única explicação para esta curiosa ladainha é Costa ter percebido que André Ventura é o seguro de vida do PS, com os votantes do centro a riscarem o PSD das suas opções eleitorais.

Cotrim de Figueiredo usou palavras como “lamaçal” para descrever a missa habitual que Governo e PS expõem em todos os debates parlamentares sobre a austeridade do governo PSD-CDS. “Já era altura de se deixar dessa argumentação”, disse Cotrim. “Está satisfeito com quê? Com o crescimento? Só há convergência com a Europa porque as três maiores economias estão em declínio. Está satisfeito com o estado da saúde?”.

E então Costa achou que Cotrim estava a “querer competir” com Ventura. E quando, perante mais outro argumento anti-IL (“Resistem mais tempo que a vossa companheira Liz Truss, mas só resistem porque não têm oportunidade de pôr em prática o seu programa”), a bancada dos liberais começa a protestar, Costa responde com mais uma frase de equivalência IL-Chega, mas com o Chega a ganhar. “Também querem competir com o Chega na vozearia? Têm de crescer muito, ó meninos.”

Os “meninos” mais desagradáveis para o primeiro-ministro, para além da Iniciativa Liberal, foram os do BE. Catarina Martins fez uma interpelação violenta a António Costa, acusando-o de dar “uma gigantesca borla fiscal aos patrões”, e a ministra do Trabalho de “mentir ao Parlamento” por causa da “meia reforma” que será antecipada em Dezembro e que se pode reflectir – para baixo – nos aumentos de 2024. “A direita faria igual”, disse a líder do BE sobre o Orçamento do Governo.

A irritação de Costa foi tanta que acusou o Bloco de “mudar de orientação política”: “Desde 2021 que o Bloco considera que os orçamentos são de direita. O BE resolveu mudar de orientação política. A cegueira e o ódio ao PS são tão grandes que estabelecem uma equivalência.” Costa sentiu-se insultado: “A má consciência do Bloco pela traição ao eleitorado da esquerda que cometeram em 2020 não os deve levar para o insulto. Deixemos essa linguagem fora do campo da esquerda e para a extrema-direita.”

Pode haver alguma lógica nos ódios de estimação de Costa: um BE forte tira votos ao PS; uma IL forte reforça a direita democrática. O PS terá sempre o Chega como Bogart e Bergman tinham Paris?»

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