«"Seria estranho que um governo do Partido Socialista não fosse composto por pessoas do Partido Socialista ou da área do Partido Socialista"
Esta frase proferida pelo primeiro-ministro no início da conferência de imprensa na sequência da última remodelação governamental, expressa bem o que vai na cabeça de António Costa no modo como gere o país.
Esta lógica que o chefe do Executivo imprime à governação tem provocado um estrangulamento na gestão dos assuntos do Estado. Por via desta visão, excessivamente partidária, o governo entrou numa espiral da qual dificilmente sairá.
Não se entende como António Costa, manifestamente um político inteligente e hábil, tem uma visão fechada, limitada, confrangedora, expressa numa escolha de ministros e secretários de Estado para o seu governo com origem exclusiva no ideário do Largo do Rato, ou comprometidos já com o atual universo governamental.
Esta visão, excessivamente partidária, está na origem da onda de remodelações e da instabilidade que o governo tem vivido. Qualquer problema que surja espalha-se, perigosamente, pelos protagonistas governamentais, excessivamente próximos, quase sempre os mesmos e saltitando de lugar em lugar.
O governo do Partido Socialista não se abre ao país. Não respira com novos quadros que venham da sociedade civil que possibilitem novas visões, rasguem novos horizontes, questionem o que está mal, tragam outras ideias à governação. Há no seio do governo uma narrativa do politicamente "correto", que os membros do governo não se atrevem a contestar, sob pena de serem marginalizados ou de não voltarem a entrar no carrossel do poder.
As remodelações que vão surgindo devem-se aos sucessivos casos, graves, que vão marcando a gestão socialista. António Costa não faz remodelações para procurar imprimir uma nova dinâmica ao governo no sentido da resolução dos problemas do país.
Embalado num discurso, incompreensivelmente otimista, o governo vai afastando-se dos cidadãos que, paulatinamente, vão percecionando a realidade. O Executivo não tem rumo, vive descoordenado, estremecendo a cada problema que surge. Os serviços públicos estão degradados. Não surgem soluções para a saúde, faltam professores nas escolas, a Justiça segue sem reformas, não sabemos o que de novo está a ser feito na agricultura, no desenvolvimento da economia do mar, na reindustrialização do país. A burocracia do Estado continua a estrangular-nos e a impedir a uma rápida instalação de empresas estrangeiras em Portugal. E, nem mesmo o PRR conhece uma execução satisfatória.
Para além desta realidade o Executivo insiste na falta de transparência, impede com a sua maioria o escrutínio parlamentar, não assume responsabilidades, refugia-se nas permanentes afirmações do "não sei" ou "não vi". Pede explicações às empresas tuteladas por si, descartando a sua responsabilidade de gerir e saber o que se passa nessas mesmas empresas.
Tudo isto é penoso, e é lamentável que se esteja a desperdiçar uma maioria absoluta com um mau governo de gestão que vive afundado na sua incapacidade de encontrar respostas para os problemas que avassalam o país. Nem tudo tem explicação nos fatores externos que vivemos. A guerra e a pandemia têm as "costas largas", mas não são responsáveis pela inação e descoordenação que o Governo regista.
Talvez não fosse má ideia o secretário-geral do PS ir aos arquivos do Largo do Rato e procurar o que de bom se fez por lá.
Os Estados Gerais, que antecederam a vitória de António Guterres em 1995, trouxeram à vida política o que na época havia de melhor na sociedade portuguesa. Académicos, investigadores, cientistas, pensadores, economistas, gente sem filiação partidária, foram chamados a dar o seu contributo na solução governativa que se seguiu.
Nos dias de hoje, Portugal e os portugueses estão a precisar de respirar. É que o país não cabe todo num único partido!»
.
0 comments:
Enviar um comentário