7.1.23

O País não cabe todo num partido!

 


«"Seria estranho que um governo do Partido Socialista não fosse composto por pessoas do Partido Socialista ou da área do Partido Socialista"

Esta frase proferida pelo primeiro-ministro no início da conferência de imprensa na sequência da última remodelação governamental, expressa bem o que vai na cabeça de António Costa no modo como gere o país.
Esta lógica que o chefe do Executivo imprime à governação tem provocado um estrangulamento na gestão dos assuntos do Estado. Por via desta visão, excessivamente partidária, o governo entrou numa espiral da qual dificilmente sairá.

Não se entende como António Costa, manifestamente um político inteligente e hábil, tem uma visão fechada, limitada, confrangedora, expressa numa escolha de ministros e secretários de Estado para o seu governo com origem exclusiva no ideário do Largo do Rato, ou comprometidos já com o atual universo governamental.
Esta visão, excessivamente partidária, está na origem da onda de remodelações e da instabilidade que o governo tem vivido. Qualquer problema que surja espalha-se, perigosamente, pelos protagonistas governamentais, excessivamente próximos, quase sempre os mesmos e saltitando de lugar em lugar.

O governo do Partido Socialista não se abre ao país. Não respira com novos quadros que venham da sociedade civil que possibilitem novas visões, rasguem novos horizontes, questionem o que está mal, tragam outras ideias à governação. Há no seio do governo uma narrativa do politicamente "correto", que os membros do governo não se atrevem a contestar, sob pena de serem marginalizados ou de não voltarem a entrar no carrossel do poder.

As remodelações que vão surgindo devem-se aos sucessivos casos, graves, que vão marcando a gestão socialista. António Costa não faz remodelações para procurar imprimir uma nova dinâmica ao governo no sentido da resolução dos problemas do país.

Embalado num discurso, incompreensivelmente otimista, o governo vai afastando-se dos cidadãos que, paulatinamente, vão percecionando a realidade. O Executivo não tem rumo, vive descoordenado, estremecendo a cada problema que surge. Os serviços públicos estão degradados. Não surgem soluções para a saúde, faltam professores nas escolas, a Justiça segue sem reformas, não sabemos o que de novo está a ser feito na agricultura, no desenvolvimento da economia do mar, na reindustrialização do país. A burocracia do Estado continua a estrangular-nos e a impedir a uma rápida instalação de empresas estrangeiras em Portugal. E, nem mesmo o PRR conhece uma execução satisfatória.
Para além desta realidade o Executivo insiste na falta de transparência, impede com a sua maioria o escrutínio parlamentar, não assume responsabilidades, refugia-se nas permanentes afirmações do "não sei" ou "não vi". Pede explicações às empresas tuteladas por si, descartando a sua responsabilidade de gerir e saber o que se passa nessas mesmas empresas.

Tudo isto é penoso, e é lamentável que se esteja a desperdiçar uma maioria absoluta com um mau governo de gestão que vive afundado na sua incapacidade de encontrar respostas para os problemas que avassalam o país. Nem tudo tem explicação nos fatores externos que vivemos. A guerra e a pandemia têm as "costas largas", mas não são responsáveis pela inação e descoordenação que o Governo regista.
Talvez não fosse má ideia o secretário-geral do PS ir aos arquivos do Largo do Rato e procurar o que de bom se fez por lá.

Os Estados Gerais, que antecederam a vitória de António Guterres em 1995, trouxeram à vida política o que na época havia de melhor na sociedade portuguesa. Académicos, investigadores, cientistas, pensadores, economistas, gente sem filiação partidária, foram chamados a dar o seu contributo na solução governativa que se seguiu.

Nos dias de hoje, Portugal e os portugueses estão a precisar de respirar. É que o país não cabe todo num único partido!»

.

0 comments: