«Quando se esperava um golpe de asa para superar a indecorosa crise da indemnização a Alexandra Reis, o primeiro-ministro foi igual a si próprio e escolheu a banalidade do óbvio. Entra João Galamba para o lugar de Pedro Nuno Santos, Marina Gonçalves sobe a ministra e muda-se o suficiente para que tudo permaneça na mesma. A sensação de que o Governo navega à vista, que não arrisca, que não consegue recrutar para lá do aparelho do PS, que prefere o conforto prudente dos pequenos equilíbrios à incerteza do rasgo e da visão, confirmou-se: habituemo-nos, pois, ao conformismo.
Na grelha de avaliação que o Presidente da República criou na mensagem de fim de ano para determinar o que “enfraquece ou esvazia” a estabilidade do Governo, as escolhas de Costa passam com suficiente menos. Marina Gonçalves dá resposta a “erros de orgânica” – a habitação merece um ministério; as nomeações são neutras quanto à “descoordenação”; mantêm activas as tropas de Pedro Nuno Santos para evitar a “fragmentação interna”; mas não respondem aos perigos da “inacção” ou, talvez, da “descolagem da realidade”.
Quando o Governo mais precisava de abrir as janelas e deixar entrar ar, quando lhe interessava fazer prova da sua força junto da sociedade civil, António Costa andou ao contrário. Rapou o tacho e, como seria de esperar, encontrou socialistas. Em vez de académicos ou gestores com provas dadas nas obras públicas ou nos transportes, tratou de dar a mão a dois apoiantes de Pedro Nuno Santos para manter os equilíbrios internos. A paz da tribo antes da eficiência, o cartão do PS antes do currículo.
Não sabemos se o fez por opção ou por falta de alternativas. A subida de Marina Gonçalves, vá lá, percebe-se, mas o risco da escolha de Galamba é enorme. Pegar num jovem secretário de Estado da Energia, sem mundo nem vida na gestão, para o levar para o ninho de vespas da TAP, ou para gerir milhares de milhões de euros na ferrovia ou no novo aeroporto é jogar na roleta. Não se trata de depreciar o valor de Galamba, que na Energia desfez muitas dúvidas. Trata-se de ler a sua biografia profissional. E de constatar que lhe falta saber técnico ou estatuto para as Obras Públicas.
O pior para António Costa, para o Governo e para o país é que esta é a percepção que paira no ar. Ninguém acredita que, depois do regabofe da TAP, o desgaste do Governo se resolva com escolhas que transpiram comodismo, resignação, falta de opção ou enfado. O pior do “habituem-se” de António Costa é mesmo essa terrível sensação de que a maioria vive numa bolha e respira apatia. Ele quer mesmo chegar ao fim da legislatura?»
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