«O PSD tem as malas prontas para fazer um Governo de coligação com André Ventura caso vença as próximas eleições. O partido enviou à sessão de encerramento da convenção o seu vice-presidente que, desde a primeira hora, imaginou uma coligação com o Chega, Miguel Pinto Luz. Isso foi um sinal, assim como se espalha a ideia de aproximação de cada vez que Montenegro diz aquela frase terrível "Para mim o Chega não é assunto" ou similar. Peço perdão pela minha ingenuidade: no Congresso do PSD até achei que Montenegro se estava a afastar do Chega. Devia estar toldada por uma vontade qualquer de dar o benefício da dúvida. Obviamente, o discurso foi feito apenas para "épater les bourgeois" como eu.
Sobre um futuro Governo PSD-Chega, a frase que, para mim, acabou por ser decisiva esta semana foi a resposta de Miguel Relvas, no seu programa de comentário na CNN-Portugal, a uma pergunta do jornalista Paulo Magalhães. "Repugna-lhe um Governo PSD-Chega?", questiona Magalhães. "Não", afirma, com a rapidez com que se responde a perguntas singelas, Miguel Relvas.
Miguel Relvas pode estar afastado da política activa, mas não é um militante qualquer. Foi número dois de Passos Coelho no PSD, no Governo PSD/CDS foi ministro-adjunto, liderou a campanha interna de Passos e a conquista do aparelho. Deputado desde os tempos da JSD, Relvas é, de certa maneira, um bom barómetro do PSD mais autêntico, das bases. É verdade que o cenário de um Governo PSD-Chega repugna a Jorge Moreira da Silva e ao eurodeputado José Manuel Fernandes. Mas parece não existir um clamor social-democrata contra uma aliança com o Chega.
O caminho para a coligação PSD-Chega começou a ser feito nos tempos em que Rui Rio popularizou aquele slogan "sim-se-o-Chega-se-moderar". O polémico acordo dos Açores funcionou como a experiência regional e antecâmara daquilo a que estamos agora a assistir. É importante ler na edição desta sexta-feira o excelente texto de Francisco Mendes da Silva cujo título é "O PSD já claudicou perante o Chega. E agora?".
O Chega exige vários ministérios, incluindo o Ministério da Administração Interna – como Salvini ocupou no Governo italiano. Pode lá chegar. Jorge Almeida Fernandes, na sua magnífica newsletter, lembra como Mitterrand favoreceu a ascensão da extrema-direita. Às vezes, quando se assistem a certas atitudes dos socialistas portugueses parece que andam a querer copiar franceses, como já foi moda em Portugal. Como foi possível o Governo enviar uma das suas ministras mais importantes e com mais peso político no PS ao encerramento da convenção do Chega? A opção burocrática de que, como o Chega é um partido com representação parlamentar, manda-se a ministra dos Assuntos Parlamentares não devia ter sido feita.
Mitterrand facilitou a ascensão de Le Pen e hoje, em França, os velhos partidos tradicionais, equivalentes aos nossos PS e PSD, faleceram. Macron saiu do Governo Hollande para criar um movimento independente – En Marche – que depois transformou no partido que agora rebaptizou de Renascimento. Do outro lado está Le Pen. O semimorto PS francês, onde militou Mitterrand Presidente, já se coligou com a França Insubmissa de Jean-Luc Melénchon.
A implosão do regime em França devia ser lida com muito cuidado pelos portugueses porque, com o PS em queda e o PSD naquele estado, um dia destes acordamos com dois pólos alternativos que não são nenhum destes.
Por enquanto, o PS tem uma maioria absoluta consagrada nas eleições de há um ano. Costa tenta recuperar a iniciativa, como tentou fazer na entrevista televisiva desta semana, mas sete anos no poder tornam a tarefa de começar do zero muito difícil. Com o PSD rendido ao Chega, é natural que parte do eleitorado do centro continue a votar PS para impedir a extrema-direita de ser Governo. Mas é impossível eternizar o PS no poder.
Caro leitor, cara leitora: se um dia acordarmos com André Ventura como ministro da Administração Interna não podemos dizer que não fomos avisados.»
Ana Sá Lopes
Newsletter do Público (excerto), 03.02.2023
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1 comments:
A crise politica portuguesa tem cambiantes mediterrânicas expressivas e siderantes, mas näo é täopreocupante como a italiana e o ouragan macronista que podem abalar a relacäo de forcas na Europa...Toni Negri tem dito como o pior pode chegar a Roma se a U.E. ficar sem dinheiro...
O albergue unipessoal do sr. Ventura tem os estigmas das antigas tascas da Ribeira e do Conde Baräo...Näo vai a lado nenhum e só pode enganar os rafeiros mediocres do Centräo. O grande prof.
Jorge Miranda bem recomenda que näo se fale do equivoco infelicissimo que o melifluo PP Coelho
tirou por artes de debildadee e menoridad extrema em mano-a-mano com o inclassificável Relvas da vida airada... Niet
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