«Com uma guerra a decorrer na Europa, os países parecem esquecer que o flagelo da migração ilegal continua a fazer vítimas, como aconteceu este fim de semana em Itália. Uma centena de mortos em mais um naufrágio, incluindo crianças e mulheres. Oito anos após a grande crise migratória de 2015, a União Europeia ainda não encontrou uma forma de enfrentar o problema.
Após anos de negociações frustradas, paralisações e bloqueios, em setembro de 2020 a Comissão Europeia lançou a proposta de um novo pacto sobre migração e asilo que deveria promover um quadro comum de gestão previsível e confiável. Passaram mais de dois anos e o plano não está aprovado e, em vez de avançar para a sua concretização, abriu-se um novo ângulo de confrontação sobre se devem ser construídos muros nas fronteiras externas da Europa e quem deve financiá-los. Ou seja, este é um assunto que equivale a uma perigosa viragem e a um retrocesso na própria ideia de Europa. Aliás, a proposta de vários países do Leste de afetar fundos comunitários à construção de vedações e muros exteriores é a expressão mais recente da crescente fratura entre duas visões antagónicas.
A Europa está dividida entre aqueles que defendem a ideia do continente como uma fortaleza e concebem a imigração como uma ameaça à economia, à identidade ou à cultura e os que veem o fenómeno como típico de um Mundo globalizado que deve ser gerido com pinças, sobretudo com o respeito dos direitos fundamentais e uma forma de enfrentar os problemas derivados do declínio demográfico europeu. Claro está que a ideia de um muro externo intransponível é uma solução mágica e falsa, proposta por aqueles a quem interessa apresentar os estrangeiros como uma ameaça, como os xenófobos e ultranacionalistas. O que acontece é que quando uma rota migratória é selada fisicamente, outra é aberta noutro lugar. Neste momento, já existem mais de dois mil quilómetros de vedações e muros em diferentes pontos da fronteira externa europeia. Mas nada impediu que se registassem mais de 330 mil entradas ilegais na União em 2022, mais 64% do que em 2021 e o valor mais elevado desde 2016. Está à vista que construir muros à Trump não é a solução.»
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