«A recusa de alguns marinheiros de cumprir a missão devido às condições do navio em que deviam embarcar tem sido olhada como um simples ato de insubordinação ou, em alternativa, como um protesto válido face ao mau estado dos equipamentos militares.
Quando 13 militares se recusam a cumprir uma ordem sabem imediatamente que vão enfrentar um mar de problemas. Fazê-lo, mesmo com motivos válidos, significa pôr em causa um dos pilares sagrados da instituição militar.
Neste caso concreto, será inevitável que os envolvidos enfrentem consequências do seu ato. Aliás, será muito pouco provável que alguma vez tivessem pensado que iriam ultrapassar incólumes o caminho que decidiram percorrer.
Porém, o que está verdadeiramente em causa são os muitos anos de desinvestimento nas Forças Armadas. Anos em que tantas vezes se menosprezaram as necessidades de defesa do país, olhando as Forças Armadas como se se tratasse de um parque de diversões para alguns militares se divertirem à custa de dinheiros públicos.
Alguns exemplos são inevitáveis: os Falcon da Força Aérea não servem apenas para levar membros do Governo (e mesmo que assim fosse, o prestígio do país também tem valor) e estão muitas vezes ocupados a transportar doentes e órgãos para transplante; os navios da Marinha são os responsáveis pelo combate ao tráfico de droga e pelo salvamento marítimo nas nossas costas. E os exemplos sucedem-se sem necessidade de chegar ao limite de pensar nas necessidades de defesa quando a Europa vive dias complexos e em que um cenário de guerra não está assim tão longe.
O ponto essencial, agora, está em saber se o alerta lançado por estes 13 marinheiros terá algum efeito. O chefe da Armada pode não conseguir esconder a irritação com um ato de insubordinação que mancha a carreira de que tanto se orgulha, mas talvez lhes possa agradecer a chamada de atenção para a situação insustentável do subfinanciamento das Forças Armadas e que acuda às necessidades que durante tantos anos foram ignoradas.»
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