23.7.23

A Espanha antes dos resultados

 


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2 comments:

luís Vintém disse...

O senhor embaixador comprou o discurso e os argumentos da direita espanhola, talvez porque toda a imprensa espanhola em papel, com excepção do El País, (La Razón, El Mundo, ABC, La Gaceta, etc…) se tornou extremamente conservadora nos últimos anos, para não dizer reaccionária. As televisões: Grupo Atresmedia e Mediaset, enchem as suas tertúlias políticas de opinadores de direita e extrema direita, e as empresas de sondagens ajudaram a alimentar ideia de que o bloco conservador-reaccionário era imparável.
Alguns dados inexactos do senhor embaixador:
1. A normalização da extrema-direita começou em Espanha, precisamente através dos grandes grupos mediáticos, desde que o Vox apareceu. PP e Vox fizeram pactos de governo em cerca de 150 comunidades e autarquias depois das eleições do passado 28 de maio.
2. O PSOE não trouxe o Podemos para o governo em 48 ou 72 horas. Foram precisas umas segundas eleições em 2019 para que, em vista da impossibilidade de governar, o PSOE finalmente aceitasse um pacto de governo com o Unidas Podemos. Após as primeiras eleições de 2019 o PSOE tentou uma investidura falhado com o defunto Ciudadanos.
3. Os compromissos de Pedro Sanchez com os nacionalistas permitiram estabilidade política, social e governativa (quatro orçamentos de estado aprovados) e retiraram ar ao balão independentista, tal como se comprova nos resultados eleitorais na Catalunha onde PSOE (19 deputados eleitos) e Sumar (7 deputados eleitos) arrasam o independentismo (ERC 7; Junts per Catalunia 7) e com a direita (PP: 5; VOX: 2).
4. Pablo Casado não foi afastado por uma suposta “inércia“, foi afastado porque denunciou corrupção no governo da comunidade de Madrid presidido pela senhora Dias Ayuso que, por sua vez, organizou com a ajuda da direita mediática uma noite de facas longas que acabou com a carreira política de Pablo Casado e colocou Feijoo à frente do PP.
5. A imagem de um Feijoo moderado e pausado começou a desmoronar-se precisamente no debate a dois que o senhor embaixador cita. O debate ficou marcado por uma cascata de mentiras por parte de Feijoo que foram sendo desmentidas nos dias seguintes. No imediato, Feijoo ganhou pela estupefacção que causou ao seu oponente mas, à medida que passaram os dias, começou a impor-se a imagem de um Feijoo cínico e sem escrúpulos.
6. Se havia sectores anti-VOX no PP não se revelaram após o 28 de maio. PP e VOX formaram cerca de 150 governos municipais e autonómicos (e muitas das figuras do VOX que o PP ajudou a chegar ao poder são sinistras).
7. O Sumar não é, de modo nenhum, um Podemos 2.0. Na verdade, as figuras mais proeminentes do Podemos foram relegadas para segundo plano ou afastadas (como a ministra de igualdade Irene Montero). Têm muito mais peso no Sumar a Izquierda Unida, partidos regionalistas como o Compromis (valenciano) e fundadores do Podemos de 2015 que tinham saído há muito em ruptura com a linha de Pablo Iglesias.
8. O resultado de ontem parece dar razão a Pedro Sanchez quanto à antecipação das eleições.
9. A contestação interna a Pedro Sanchez vem apenas de um sector de socialistas históricos da época de Felipe González (Alfonso Guerra, Joaquín Leguina, e outros). Juntaram-se num jornal chamado “El Debate“ e parecem mais próximos até do VOX que do PP. Leguina foi expulso do PSOE pelo apoio a Isabel Diaz Ayuso nas eleições autonómicas do passado mês de maio.
Sobre o Ciudadanos, o senhor embaixador é absolutamente exacto.

Manuel Quintairos Pousa disse...

MOi bom comentário, conhece bem a política espanhola. Um saúdo dende a Galiza