21.12.23

A extrema-direita à conquista da Europa

 


«O centrista Emmanuel Macron deu as mãos à extrema-direita e aprovou uma legislação para a imigração que está a causar revolta no seu partido e fissuras no seu Governo. Com a nova legislação, os imigrantes vão perder apoios sociais e os seus filhos terão mais dificuldades de obter a nacionalidade francesa. A nova lei, que suscita dúvidas constitucionais, é “um escudo” de que a França precisa para não perder “o controlo”, garante Macron. Marine Le Pen diz que a aprovação do diploma é uma “vitória ideológica” da sua União Nacional e tem razão.

Aos poucos, por toda a Europa, os sinais são de cedência à agenda anti-imigração. Nos Países Baixos, a vitória nas legislativas foi para Geert Wilders. Na Alemanha, o extremista AfD é o segundo partido mais popular e pode vir a ganhar três eleições regionais no próximo ano. Na Áustria, o Partido da Liberdade (FPÖ), que ainda há quatro anos se viu envolvido em vários escândalos de subornos, já tem 30% das intenções de voto. Em Itália, governa Giorgia Meloni com uma agenda marcada pela imigração e no Reino Unido um Partido Conservador que se vai consumindo nas medidas que tenta tomar para impedir os imigrantes de atravessarem o Canal da Mancha.

As eleições europeias, marcadas para Junho de 2024, poderão mostrar uma Europa com uma profunda inclinação para a extrema-direita, com consequências geopolíticas avassaladoras, e não será a legislação, aprovada agora pelo Parlamento Europeu, que virá a tempo de conter o que muitos acham que é mais uma crise de percepção do que realmente uma crise de imigração.

A imigração tem vindo a subir, mas entram hoje na Europa muito menos refugiados do que no pico de 2015 e 2016 e há países como a Itália (ou Portugal) onde o Inverno demográfico faz com que a mão-de-obra imigrante seja uma necessidade imperiosa. Há questões de integração e problemas com as longas esperas para obter a legalização, mas são acima de tudo políticos e alguma imprensa que conseguem dar ao problema uma dimensão bem maior do que ele tem, tarefa facilitada sempre que a economia apresenta problemas. Uma situação que se poderá agravar no próximo ano e ainda abrir mais terreno para os senhores das respostas simples.

Macron, como já o fizeram outros partidos centristas ou de direita, tenta mostrar-se forte com a imigração, numa tentativa de estancar o crescimento das forças de extrema-direita [adoptando a sua política]. Foi o que também tentou fazer, no ano passado, o partido de Mark Rutte nos Países Baixos. O seu governo caiu e o partido que liderava desceu para o terceiro lugar. A história tem tudo para se poder repetir.»

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