«A história do menino que tem poder para curar os doentes e que é filho daquele cujo nome não pode ser usado em vão está a ser vivida com surpreendente intensidade, este ano. É, como sabemos, um menino chamado Nuno, que através da sua acção conseguiu obter um tratamento para duas doentes luso-brasileiras, usando indevidamente o nome do pai, e acabou crucificado na opinião pública. No dia 24 de Dezembro, Marcelo, que é o pai do menino, referiu-se a ele e às reuniões que ele manteve com o secretário de Estado da Saúde dizendo: “Quem organizou, quem fez esse encontro, essa audiência, essa conversa, fê-lo porque não conseguiu chegar onde queria por outro caminho, que era através do Presidente e da Presidência da República, por isso é que foi a seguir tentar outra coisa, porque não tinha obtido aquilo que queria.” São declarações tão duras que, muito provavelmente, fizeram com que o menino suspirasse: “Pai, pai, porque me abandonaste?” Mas são também um ensinamento, um modo de o pai mostrar ao filho que é possível referirem-se um ao outro sem ser necessário proferir o nome de cada um, lição que o filho deveria ter tido em conta quando andou a marcar as tais reuniões valendo-se do seu apelido.
Na véspera de Natal, Marcelo acrescentou ainda: “Tenho muita pena de não ter sabido há quatro anos e tal, porque era nessa altura que eu devia ter sabido e não nesta altura, mas isso diz respeito às relações pessoais e é evidente que, pessoalmente, retiro as conclusões de não ter sido dito o que devia ter sido dito, o que permitiria intervir para que não tivesse acontecido o que aconteceu.” Mais uma vez, estas considerações são uma proclamação política. Marcelo deixa claro que é o Presidente dos afectos mas apenas para os cidadãos que não pertencem à sua família. Em relação aos familiares, o afecto está suspenso pelo menos até ao fim do mandato.
O caso inaugura uma prática interessante. Sua Excelência, o Presidente da República, comunica com a família através da imprensa. Espero que todos os outros titulares de cargos públicos sigam este exemplo. Gostaria que o primeiro-ministro convocasse as televisões para informar a mulher de que é preciso ir buscar o mais novo à escola. Ou que o ministro da Saúde desse uma conferência de imprensa para transmitir ao primo que já é tempo de devolver a moto-serra que lhe emprestou em 2005. Assim como foi interessante saber pela comunicação social que o filho do Presidente da República, este ano, não receberá presentes.»
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1 comments:
Como diria Gil Vicente: "E assim se fazem as cousas!"
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