31.3.24

A ação e o programa

 


«Os populismos de direita são, por definição, anti-intelectuais: tanto Trump como Bolsonaro se orgulham de não ler livros e desprezam toda a produção académica, que identificam como sede principal do feminismo, das políticas identitárias, do igualitarismo e do wokismo.

A extrema-direita, pelo contrário, tornou-se marcadamente teórica, tendo alguns dos seus ideólogos escrito obras que sintetizam os seus pontos de vista, recorrendo estilisticamente à forma académica. Durante os últimos 40 anos — nos quais os valores progressistas foram dominantes no Ocidente — a extrema-direita teve de se limitar a ter ideias, já que a ação era inviável. Os seus intelectuais, com tempo e demora, dedicaram-se a identificar as raízes profundas do mal-estar e a lançar uma série de eixos teóricos em torno dos quais agir.

Joakim Andersen, autor sueco, militante da extrema-direita, publicou em 2017 Ressurgir das Ruínas: A Direita do Século XXI, em si mesmo um título sugestivo, em que clarifica a relação da extrema-direita com o populismo: "Vivemos anos agitados, marcados por vitórias populistas e derrotas globalistas. Esta tendência deverá manter-se nos próximos anos. A direita populista e nacionalista — a verdadeira direita — continuará a obter vitórias políticas e os globalistas liberais sofrerão novas derrotas nos próximos anos. É evidente que entrámos num novo paradigma".

Evidente é, também, que os populismos são o braço armado do quadro teórico da direita radical. Andersen incita à luta: “Em termos de metapolítica, teremos de continuar a esmagar os últimos vestígios do politicamente correto e continuar a construir as nossas próprias plataformas de notícias, debate, política e socialização. Vamos intensificar os nossos esforços e tornar-nos ainda mais profissionais." É importante ler estes autores porque permite dar nome ao que os partidos populistas estão realmente a fazer: a sabotagem à democracia é atividade metapolítica; e ao desejo de participar no sistema que condenam chamam-lhe profissionalização.

Entretanto, transversal a todo o livro está a ideia da desvirilização: "Os homens europeus não estão propriamente a tornar-se cada vez mais masculinos, mas, pelo contrário, estão a ser sucessivamente despojados das qualidades necessárias para proteger as suas sociedades, as suas mulheres e os seus filhos". Para o autor, a cultura ocidental está esfrangalhada, basta ligar a rádio para “ouvir vozes de rapazes efeminados e gritos de mulheres passivo-agressivas”. Mas, não vá o leitor despistar-se, o autor esclarece que “em caso algum a noção de ‘virilidade’ deve ser confundida com ‘machismo’ ou com a estúpida ideia de ‘privilégio social masculino’. A virilidade de um povo é uma condição para a sua manutenção na história. (...) Na luta pela sobrevivência, o sentimento de se ser superior e de ter razão é indispensável para agir e ter sucesso”. Credo, que antigo.

Guillaume Faye, teórico político francês e membro destacado da Nova Direita francesa, publica em 2011 Por que Lutamos: Manifesto da Resistência Europeia, em que resume bem a questão central: "Os europeus foram poderosos enquanto se mantiveram ingenuamente etnocêntricos. Quando começaram a interrogar-se sobre 'o valor do Outro', o declínio instalou-se." (...) Lembrem-se que os nossos adversários já perderam. Só ainda não pararam de respirar." A ver vamos.

Seja como for, o futuro próximo não vai ser bonito. Teremos de agir com a mesma determinação unida que derrotou a onda fascista que emergiu nos anos 30. Uma nova Frente Popular, que una todas as forças que valorizam o Outro.»

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