9.4.24

O declínio do liberalismo e o 25 de abril

 


«Depois da queda do comunismo e do socialismo, depois da euforia liberal que lhe sucedeu, a partir da década de oitenta do século passado, eis que estamos para muitos, neste início do século XXI, perante o declínio das ideias liberais.

O que vem aí, ainda não conhecemos. Porém, vários estudos empíricos evidenciam um paulatino retorno do conservadorismo, com o seu apego à ordem, à autoridade, à tradição, nas suas diversas matizes. Muitas são também as obras que têm sido publicadas destacando essa nova circunstância no mapa político mundial, quer por parte dos seus inimigos de sempre, quer, cada vez mais, por todos os que o criticam o liberalismo na tentativa de o salvar. Afinal de contas, de um modo ou de outro, somos todos politicamente liberais desde o início da modernidade.

Ora também entre nós, quando estamos à beira de comemorar os cinquenta anos do 25 de abril, em nome precisamente da liberdade contra a ordem autoritária, convém lembrar que Portugal nunca foi um país liberal. Foi quase sempre, isso sim e ao invés, um país profundamente conservador.

Recorde-se que já nos anos quarenta do século passado, aquando do último grande retrocesso liberal, Karl Popper escrevia sobre a sociedade aberta e os seus inimigos, acentuado a necessidade de salvaguardar o núcleo das ideias liberais, como a liberdade, o pluralismo, a tolerância, contra os diversos monismos autoritários.

A história repete-se agora com o regresso do discurso antiliberal, pois assistimos ao fim da festa da liberdade que infelizmente, foi levada por muitos para lá dos seus limites razoáveis, sobretudo na variante do progressismo sociocultural, cujo avatar mais recente é o wokismo, nas suas diversas declinações.

Ou seja, o novo o discurso antiliberal, que assenta sobretudo no aproveitamento político da vitimização, na alegada defesa de todos “os oprimidos da terra”, aliado ao elitismo globalista dos ganhadores da nova revolução tecnológica, tem acentuado o declínio do liberalismo. Aliás, é esta versão pós-moderna do liberalismo que paradoxalmente, também tem levado ao crescimento do extremismo conservador de pendor autoritário que agora parece alastrar por todo o lado.

Sabemos que sem ordem só existe o caos e o medo. Sabemos que sem segurança não existe liberdade. Mas a ordem que importa defender para garantir a segurança necessária à fruição plena da liberdade, do pluralismo e da tolerância, é a ordem legitimada democraticamente, não o retorno a qualquer a ordem mais ou menos autoritária. Esse será também o caminho para salvar o liberalismo do seu anunciado declínio face à nova vaga conservadora.

Trata-se, no fundo, de harmonizar o valor da ordem com o valor da liberdade, garantir o equilíbrio entre a emoção e a razão, entre a força e o direito. Terminando com as palavras sábias de um dos pais fundadores dos Estados Unidos da América, Thomas Jefferson, a rivalidade entre o liberalismo e o conservadorismo sempre se baseou no confronto entre “os homens tímidos que preferem a calma do despotismo ao mar tempestuoso da liberdade”

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