5.5.24

Sim, o racismo existe mesmo

 


«Imagine que está tranquilo na cama durante a madrugada, quando lhe entra em casa um grupo de encapuzados que começa a agredi-lo e a partir objetos e mobílias. O cenário não é de filme, nem de um bairro agitado numa capital com índices de criminalidade elevados algures no Mundo. Aconteceu no centro do Porto, com o grupo de agressores a visar cidadãos estrangeiros (sobretudo magrebinos) a quem aconselhou a voltarem ao seu país. A Polícia regista diversos ataques do género e fala num grupo organizado.

Haverá quem alegue que a zona do Campo 24 de Agosto tem sido varrida por assaltos e as próprias autoridades apontam a insegurança como eventual rastilho para reações mais violentas. O JN esteve precisamente há uma semana no local a fazer reportagem sobre o tema. Ainda que a narrativa que promove a ligação entre imigração e criminalidade seja conhecida, em momento nenhum pode ser usada para justificar comportamentos criminosos e xenófobos. E muito menos para ignorar as evidências de um discurso de ódio contra estrangeiros que exige respostas firmes.

Temos problemas de acolhimento e integração de imigrantes e importa discuti-los. A começar, claro, pela trapalhada na reforma do SEF e na criação da Agência para a Integração, Migrações e Asilo. Têm sido insistentes os alertas sobre a falta de resposta dos serviços públicos aos fluxos migratórios, tal como é da responsabilidade da Assembleia da República a ativação da Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial, parada há meio ano. Há muito trabalho a fazer e as consequências refletem-se no trabalho, nas escolas e nas ruas.

O que não pode é usar-se a nossa ineficácia a tantos níveis na integração para criar discursos de ódio e para tentar esconder debaixo do tapete os comportamentos racistas que persistem. Não pode haver uso deturpado e descontextualizado de dados sobre criminalidade para instigar a violência. Não pode haver aproveitamento político do medo, como tem acontecido. E não podemos fingir que os extremismos não são uma ameaça. Ou queremos que acontecimentos surpreendentes como os da madrugada de sexta-feira se tornem normais?»

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