24.5.24

Ventura ultrapassa Le Pen pela extrema-direita

 


«Na tarde desta quinta-feira, a Alternativa para a Alemanha (AfD) foi expulsa do grupo político Identidade e Democracia, a que também o Chega pertence no Parlamento Europeu.

As declarações do cabeça de lista da AfD, Maximilian Krah, em entrevista ao La Reppublica, segundo as quais era "errado" classificar todos os membros das SS (a organização paramilitar nazi) como "criminosos", levaram Marine Le Pen a cortar relações com o até agora "partido-irmão" da Alemanha. Até Le Pen percebe que a desculpabilização do nazismo é capaz de ser demasiado para a extrema-direita.

O anúncio da expulsão da AfD foi feito pela Liga italiana, já depois de o cabeça de lista do ex-partido irmão ter renunciado à direcção do partido e decidido abster-se de participar na campanha eleitoral.

André Ventura, embora se demarque do discurso de Maximilian Krah (também era melhor), acha, contudo, que se trata "de uma opinião" e diferenças de opinião é o que há mais nos partidos que pertencem aos mesmos grupos políticos no Parlamento Europeu.

Quando se vê Marine Le Pen a ter uma posição que é um poço de lucidez comparada com a de André Ventura, é porque estamos a descer muito mais baixo do que julgávamos ser possível.

Vamos lá a ver: não é uma novidade que a AfD é um partido com neonazis nas suas fileiras. Ainda em Janeiro foi divulgado pelo grupo de jornalismo de investigação Correctiv o "encontro de Potsdam", uma reunião secreta realizada em Novembro, em que elementos da AfD se reuniram com um grupo de neonazis para discutir a "remigração" de imigrantes e cidadãos alemães "não integrados". A AfD, perante o escândalo que atravessou a Alemanha, despediu um assessor.

Le Pen descobriu agora que a AfD é neonazi – ou tem neonazis nas suas fileiras, como a escolha do cabeça de lista ao Parlamento Europeu comprova – e conviveu alegremente com o partido alemão na família europeia Identidade e Democracia. A diferença é que André Ventura ainda não descobriu.

Quando confrontado com as declarações do número um da AfD às europeias, Ventura disse isto: "Eu não me revejo nas declarações que foram feitas, eu não o diria, mas o Chega faz parte de uma família política que quer sem dúvida mudar a Europa na luta contra a corrupção, na luta por fronteiras seguras e contra a imigração. Não vou concordar a 100% com o que todos dizem, mas não há nenhum grupo europeu que o faça".

Vivemos tempos perigosos. A facilidade com que Ventura "desculpa" o colega (com quem, pelos vistos, só não concorda "a 100%"), diz que vai manter relações com a Alternativa para a Alemanha e ainda se rebela com os ataques à "liberdade de expressão" (aludindo a uma "paranóia colectiva em que estamos todos quando alguém diz alguma coisa de que não gostamos") pode-nos levar a pôr a hipótese de que um dia destes estará a dizer o indizível.

O número um do Chega às europeias, Tânger Correia, conseguiu ser mais razoável do que o líder do partido: admitiu que as declarações do candidato alemão o "deixavam desconfortável", disse que os membros das SS "sabiam bem o que estavam a fazer" e pôs em cima da mesa a hipótese de cortar relações com a AfD.

Ver Tiago Moreira de Sá, um dos antigos deputados eleitos pelo PSD na bancada de Rui Rio – teoricamente o mais social-democrata dos recentes líderes do PSD –, nas listas europeias do Chega torna-se particularmente penoso.

Felizmente, a Identidade e Democracia – no seu todo – é mais inteligente e menos permissiva a discursos antissemitas do que o Chega. É verdade que existem algumas pessoas nas listas do Chega que ainda não percebi se foram sempre assim, se apenas querem "um tacho" e alimentar (a caviar) a família e estão dispostos a tudo, ou se, no fundo, no fundo, andaram a passear-se por outros partidos a fingir-se de democratas, mas estão prontos a abraçar todo o racismo que lhes caia no colo (e o antissemitismo também).

A Europa dos valores, a Europa fundada pelos socialistas e democrata-cristãos, está a afundar-se com o crescimento deste tipo de partidos, onde reside o ovo da serpente. Marta Temido esteve correcta quando disse que o Chega era o seu principal adversário nestas eleições europeias. O Chega devia ser o principal adversário de todos aqueles que acham que defender o nazismo não é uma opinião.»

Ana Sá Lopes
(Newsletter do Público)

1 comments:

Niet disse...

Pelo que esperam os activistas do Bloco para traduzirem analises fundamentais sobre as movimentacöes das principais "centrais" de extrema-direita francesas e alemas, AFD e Rassemblement Nationale,que os grandes jornais desses paises-chaves da U.Europeia publicam todos os dias?A Ana Sá Lopes com maestria e decisäo mostra o caminho.E o que se vê é que o primarismo e mediocridade das análises do Chega espelham um caos estratégico nauseabundo muito perigoso com
um iletrismo glauco e letal altamente venenoso,helàs, a milhas de quaisquer referenciais minimos.A "secreta "alemä e os "servicos" pariseenses infiltraram as centrais da contra-
-revolucäo e da barbarie.Niet