«Liberdade, igualdade, fraternidade. O lema da Revolução Francesa tornou-se universal. É sinónimo de direitos humanos e de democracia. Produto do século das luzes, sobreviveu aos tempos mais sombrios dos últimos duzentos anos. E está inscrito na Constituição francesa. Deveria estar em todas, porque todas as democracias europeias são, de uma forma ou de outra, herdeiras destes princípios.
Valores sob ameaça, quando parece certa a vitória da extrema-direita no domingo. Exagero retórico? Foi Marine Le Pen que, no discurso de vitória da primeira volta, disse ao que vinha. A França com que sonha é outra: liberdade, segurança, fraternidade (liberté, securité, fraternité, no original). Não é uma alteração de pormenor. Não há liberdade ou fraternidade sem o objetivo da igualdade.
A União Nacional tem raízes profundas no antissemitismo, na homofobia, na xenofobia, no racismo, na supremacia branca. Le Pen alterou o embrulho e o partido parece menos retrógrado e reacionário. Ou, como agora se diz, está normalizado. Mas, ainda que com palavras mais suaves, a retórica é igual: a França para os franceses. E já não basta ter nascido em França para ser um verdadeiro francês. É preciso ser da etnia certa.
E é por haver tantos que, nesta perspetiva distorcida, não são franceses, que se justifica trocar, na retórica radical, a igualdade pela segurança. Os que vivem em França não podem ser todos tratados de forma igual. Os verdadeiros franceses terão sempre mais direitos do que os outros.
Paira uma sombra sobre a França e a Europa. Para a afastar é preciso que os cidadãos respondam ao repto de “A Marselhesa”: “Aux armes, citoyens” (Às armas, cidadãos). Sendo certo que, no século XXI, a arma para combater os promotores do ódio é a do voto. Não há nada mais eficaz.»
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