«O debate entre Donald Trump e Joe Biden foi tão penoso para o actual Presidente dos Estados Unidos que o homem mais poderoso do mundo teve de passar os últimos dias a garantir que estava de boa saúde.
Com as sondagens em alguns estados importantes mais favoráveis a Donald Trump, o facto de Joe Biden ter de vir dizer todos os dias que “está bem” não é exactamente um trunfo de campanha. Trocar o nome de Zelensky pelo de Putin seria só mais uma das imensas gaffes dos 50 anos de carreira política de Joe Biden, não se desse o caso de acontecer agora, aos 81 anos, quando as suas capacidades cognitivas são postas em causa por uma grande parte dos democratas. Nancy Pellosi foi talvez a mais violenta, ao dizer que era legítimo perguntar se o que se tinha passado no debate “era só um episódio ou uma condição”.
Desde 27 de Junho que a campanha no interior do Partido Democrata contra Joe Biden estava a ser de uma intensidade assombrosa. Na verdade, Donald Trump só teve de estar quieto enquanto os democratas entravam em modo suicídio.
A mais perfeita tradução dessa campanha anti-Biden vinda das hostes democratas (ou, melhor dizendo, em defesa da desistência de Biden) foi a capa da revista The Economist da semana passada, em que o título “No way to run a country” [não é forma de dirigir um país] era ilustrado com o selo do Presidente dos Estados Unidos em cima de um andarilho. Dificilmente se pode encontrar uma capa tão cruel nos anais de uma revista “de referência”.
Este sábado, Bernie Sanders — o senador que se chegou a candidatar a Presidente nas primárias do Partido Democrata para as presidenciais de 2016 e de 2020 — veio dar um murro na mesa contra a campanha anti-Biden vinda de dentro dos democratas.
“Basta! Biden pode não ser o candidato ideal, mas será o candidato e deve ser o candidato. E com uma campanha eficaz, que fale às famílias trabalhadoras, não só vencerá Trump como o vencerá largamente.” A frase de Sanders, bastante realista (simplesmente não há tempo nenhum para arranjar alternativa a Biden e Kamala Harris, quase pré-indicada como sucessora há quatro anos, acabou por não o ser), teve efeitos nulos. Horas depois, o tiro sobre Donald Trump.
A tentativa de assassínio do antigo Presidente Trump arruma — como se não bastasse a fragilidade evidente de Biden — um dos maiores argumentos da campanha democrata, a de que Trump é uma ameaça à segurança. Trump pouco mais novo é que Biden (menos três anos apenas), mas toda a coreografia do ex-Presidente depois do acontecimento na Pensilvânia ficará na História como uma prova de força. O punho erguido e a cara ensanguentada de Trump são os símbolos das próximas eleições de Novembro. Dificilmente qualquer discurso democrata poderá fazer alguma coisa contra o facto de Trump ter sido vítima de uma tentativa de assassínio.
Numa América disposta a tolerar a violência, era o pior que podia acontecer. A invasão do Capitólio desaparece perante um Trump ferido.
O editorial deste domingo do New York Times dava números: num inquérito feito no mês passado por uma instituição de Chicago sobre segurança e ameaças, 10% dos inquiridos achavam que o uso da força se justificava para evitar que Trump fosse eleito Presidente. E, dos inquiridos, também 7% achavam, em sentido contrário, que era legítimo o uso da força para conseguir que Trump voltasse à Casa Branca.
O momento é de uma gravidade imensa. O discurso democrata morreu na Pensilvânia, com Biden ou sem Biden, e Trump pode muito bem voltar a ganhar a Presidência dos Estados Unidos. Agora, pode dizer-se que já não está tudo em aberto.»
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