28.7.24

Para alguns, foi “uma Sena triste”

 


«- É estúpido ficares aí sabendo que vai chover tanto. Dizem que chove intensamente durante toda a cerimónia. - É. Mas também é estúpido ir embora, porque quem fugir não vai poder contar o caos que vai ser.

Este diálogo, entre Paris e Lisboa, foi tido nesta sexta-feira, a três horas do início da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, na qual as bancadas de imprensa e de espectadores não tinham cobertura – ou sequer um mero toldo.

A decisão final foi ficar para assistir, numa clara atracção pelo abismo – e, por absurda que possa parecer, é essa atracção que permite dizer que o que se passou nesta sexta-feira em Paris foi um novo nível de bizarria.

É até cómico que uma cerimónia grandiosa e pensada ao detalhe tenha sido, para alguns, importunada por algo tão singelo como... chuva. Só chuva. Nem foi preciso granizo, trovoada ou vento. Só chuva.

A chuva que colocou jornalistas a dividirem protecções de plástico com os seus computadores – em rigor, não dava para ambos – e que justificou limpeza de mesas e cadeiras encharcadas em plena bancada de imprensa. Limpeza feita com a mão e com as mangas das camisolas, que panos são coisa de primeiro mundo. E, como todos sabem, não estamos na pobrezinha Paris, estamos no luxuoso Taiti, em cavaqueira com os amigos do surf olímpico.

O conceito para esta cerimónia era ter tudo ao ar livre – tudo menos a tribuna presidencial, claro. Há limites para o contacto com a natureza.

Espectadores, bem como fotógrafos e jornalistas, cuja maquinaria não se deu bem com chuva, teriam de ver tudo dali e deu-se um fim de tarde triste, que prometia ter sido de grandiosidade nunca vista em olimpíadas.

Mas paremos o queixume. Afinal, a maioria dos espectadores espalhados pelo mundo assiste a tudo nas suas casas – houve, portanto, uma larguíssima maioria de espectadores a verem esta cerimónia em boas condições.

Se for uma questão de números, a coisa até correu bem, porque uns milhares de jornalistas são só isso: uns milhares de jornalistas. E se o apertadíssimo e modesto orçamento dos Jogos já derrapou com bancadas destas, seria um desastre financeiro se houvesse investimento em toldos.

Para os jornalistas na tribuna de imprensa, não havia sequer linha visual para o rio Sena, mas sim para a Torre Eiffel, para o palco e para a tribuna presidencial – aquela com uma bela cobertura.

A cerimónia foi gira, sim, mas, por aqui, vista pela televisão. Tal como por aí.»


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