«António Lobo Antunes está vivo de todas as maneiras. E quando já não respirar estará sempre mais vivo do que as hienas que já o rondam. Este Outono não haverá livro "novo" do António. A razão é grave e de uma enorme tristeza, e estava guardada, com dignidade e recato, pelo círculo próximo. Até que um jornalista que de vez em quando escreve vê uma oportunidade: agora é que era de reeditar aquelas conversas com mais de 15 anos. É mais um entre os duzentos títulos de entrevistas a Lobo Antunes, a que neste caso chamaram longa viagem, uma originalidade que disfarça mal o óbvio. Reeditar coisa requentada tem riscos, claro. Pode o mofo afastar o apetite do leitor. Vai daí, o entrevistador de Lobo aposta numa brilhante campanha de marketing. Decide ser ele a publicitar aos quatro ventos o que era uma informação do mais privado foro familiar, decoro respeitado pela editora de sempre de Lobo Antunes. Informa as redes sociais e alguma Comunicação Social: António Lobo Antunes sofre de demência. Assim mesmo, sem punhos de renda, para que a coisa se espalhe como fogo em mato seco. Para logo acrescentar: agora comprem este livro, está muito giro, tem quinze anos mas demos-lhe aqui um refresco, são conversas com o consagradíssimo, caramba, querem maior tesouro, agora que sabeis, por mim, que ele sofre de demência? Não me dou mal com palavras mas não consigo escolher duas ou três que classifiquem isto. É pena que António Lobo Antunes não possa reagir aos que lhe querem roer já os ossos. E que prepararam isto andando sempre de volta dele.»
Rodrigo Guedes de Carvalho no Facebook
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