«A Alemanha vai controlar todos os postos de fronteira terrestres a partir da próxima semana. Uma medida que aponta ao coração da que era a conquista mais valorizada pelos cidadãos da União Europeia: a liberdade de circulação. Uma medida tomada, não porque haja uma emergência, mas por cálculo eleitoral. Na próxima semana haverá eleições no Brandemburgo e as sondagens apontam para uma vitória da AfD (Alternativa para a Alemanha), partido de extrema-direita que fez dos imigrantes o bode expiatório de todos os males. Somando as intenções de voto da extrema-direita e do novo partido de esquerda populista, que também adotou uma retórica anti-imigração, mais de 40% dos eleitores daquele Estado subscrevem narrativas xenófobas ou racistas.
A Alemanha não é caso único. Há anos que que a direita radical percebeu que a imigração é um mercado eleitoral prometedor. Em Portugal, o Chega refere-se aos imigrantes numa linguagem abrasiva e defende soluções violentas, como se estivéssemos no tempo das cruzadas. “É preciso controlar as hordas de imigrantes que tentam invadir a Europa”, proclama um. “Não estamos seguros! É preciso controlar fronteiras e iniciar deportações em massa!”, exclama outro. “Não queremos mais bandidos em Portugal”, conclui Ventura.
Não é caso único a Alemanha. Mas é o país mais importante da União Europeia, em termos económicos e políticos. Uma peça central desse espaço comum de valores e de progresso. Costuma dizer-se, a propósito da economia, que, quando a Alemanha espirra, o resto da Europa constipa-se. O adágio é válido em termos de políticos. Se um Governo alemão, composto por partidos de centro-esquerda (sociais-democratas e os verdes) e liberais suspende a liberdade de circulação, contaminado pela retórica extremista, que exagera os problemas e ignora as vantagens da imigração, outros seguirão o exemplo. Não é exagerado dizer que assistimos ao princípio do fim da Europa enquanto espaço de progresso económico e social, de tolerância e de inclusão.»
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