«Depois de, no ano passado, a Cimeira do Clima ter ajudado a perpetuar os interesses económicos dos Emirados Árabes Unidos, o filme negro volta a repetir-se este ano, noutra geografia igualmente inimiga das energias limpas. O Azerbaijão, país-anfitrião da Cop29, tem na produção de combustíveis fósseis quase metade das suas exportações. Na cerimónia de abertura, em Baku, o presidente Ilham Aliyev disse mesmo que o petróleo e o gás eram uma “dádiva de Deus”. Seria cómico, se não fosse ridículo.
De resto, a Cimeira do Clima está pejada de lobistas anticlima: estima-se que na edição deste ano estejam inscritos pelo menos 1773 entusiastas do petróleo, gás e carvão, bem acima dos 1033 delegados das dez nações mais vulneráveis à crise climática. Al Gore, ex-presidente dos Estados Unidos, recorreu a uma imagem curiosa para expor esta disformidade concetual: “Há uma velha canção country do Nashville chamada´‘Looking for love in all the wrong places’ (à procura do amor em todos os lugares errados)”.
O combate às alterações climáticas só é eficaz se houver boa vontade (e muito dinheiro) dos países desenvolvidos. Sem a ajuda deles, as nações mais desfavorecidas jamais terão capacidade de intervenção contra os fenómenos extremos. Mas não é aceitável que as Nações Unidas continuem a patrocinar eventos desta natureza em petroestados, ao mesmo tempo que vão dramatizando o discurso público e apelando à urgência de medidas radicais. A causa ambiental, já tão fortemente desacreditada por ambientes tóxicos e tribos negacionistas, não ganha nada com exercícios de automutilação institucional como este. A temperatura do planeta tem de baixar. A hipocrisia também.»
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