15.11.24

Não é uma segunda temporada

 


«A velocidade a que os nomes da nova Administração americana são anunciados só tem par na velocidade a que os diversos grupos da coligação MAGA batem palmas. As surpresas, as críticas, o espanto ou mesmo a oposição a alguns nomes — e alguns são tão absurdos que nunca teriam lugar na primeira Administração de Donald Trump — surgem lentas, implacavelmente ultrapassados pela marcha de uma grande coligação.

As três principais mudanças que encontrei no terreno nos EUA em relação a 2020 resumem-se em poucas frases: uma fragmentação mediática exponencial, um ativismo “conservador” empenhado numa contrarrevolução cultural que explora essa fragmentação e, por último, um movimento MAGA mais vasto e diverso que aproveita de forma muito profissional os dois fatores anteriores.

Claro que sem a inflação, a economia e a imigração ilegal nenhuma destas mudanças seria determinante. Mas “em cima” destes problemas — comuns em democracia —, o que Trump fez ao longo dos últimos meses foi uma coisa diferente de 2016. O personalismo do líder passou a estar acompanhado de uma constelação de lugar-tenentes que são protagonistas dessa fragmentação e da revolução cultural.

Quem tenha visto comícios inteiros do Presidente eleito percebe isso de forma clara. O Rei-Sol regressou com uma constelação de figuras polarizadoras e contraditórias, mas com força intrínseca. A mudança já se sentia em 2020, mas explodiu com a pandemia, primeiro com a forte digitalização, depois com a revolta contra medidas sanitárias.

A nova versão do movimento MAGA, como sublinhou Miguel Monjardino, tem uma lógica de atuação leninista, em que a revolução se ganha através de uma atuação rápida e implacável. Desvalorizar o poder transformador desta coligação é um erro primário; colocá-la num altar, como fazem os admiradores europeus, é um erro ainda maior. A cola desta coligação é o isolacionismo. O resto do mundo limita-se a assistir.»


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