«Se o debate quinzenal desta quarta-feira era para ser o primeiro dia do resto da vida deste Governo – que agora tem o Orçamento aprovado e luz verde para se manter no poder até 2026 – foi um dia “poucochinho”.
É espantoso como o Governo e o PSD não perceberam que a táctica do “conluio”, para afrontar o PS e o Chega, tem riscos imensos. É quase uma estratégia autofágica, quando a urgência do PSD é conseguir conquistar em futuras eleições o eleitorado que votou Chega nas últimas legislativas.
O que leva Luís Montenegro e Hugo Soares a inventar “conluios” entre Chega e PS? Enfim, num Governo que não ata nem desata nas sondagens, num tempo político que não sai da confusão que é um “empate técnico”, percebe-se que exista algum desespero – se calhar a mesma forma de desespero que levou o primeiro-ministro a fazer a patética conferência de imprensa para fazer uma acta de actividades policiais, desespero que se prolonga no facto de, na tarde desta quarta-feira, se ter autocongratulado pela figura que fez e ter voltado a desfiar os números de operações da polícia. As situações de possível desespero resolvem-se, em política, com sangue-frio. Aparentemente, o primeiro-ministro, que chegou a ser saudado por ter essa qualidade, já se esqueceu como se faz.
No debate desta tarde, Luís Montenegro e Hugo Soares, o líder parlamentar do PSD, não se cansaram de apontar as “provas de conluio” entre PS e Chega que Hugo Soares acusou de serem, ambos, “forças de bloqueio”.
A aprovação do aumento das pensões no Orçamento viabilizado há dias pelo PS foi apontada como lesa-pátria. Montenegro chegou a dizer que ainda será mais duro quando vestir o fato de presidente do PSD: “Não me calarão a voz na denúncia desta situação.”
Foi um favorzinho que o Governo e o PSD decidiram fazer a André Ventura. Com o à-vontade de quem não foi obrigado a viabilizar o Orçamento, o Chega tinha a passadeira vermelha estendida para poder voltar a colocar-se como o partido fora do sistema, que nem o Orçamento da AD aprovou, nem governou o país durante os últimos 50 anos. Afinal, o que não faltam são “conluios” entre Governo e PS, da viabilização do Orçamento à eleição do presidente da Assembleia da República, passando por uma data de coisas do “sistema”. Achar que a táctica do “conluio” não serve para engordar o Chega é, no mínimo, uma ingenuidade.
Se o “conluio” não se entende, já se percebe que o primeiro-ministro atire à cara de Pedro Nuno Santos que o Governo não pode fazer em nove meses o que os governos de António Costa não fizeram em oito anos.
O PS está a provar, em ricochete, a táctica costista da “culpa da troika” e da “culpa do Passos”. Por muito que Pedro Nuno Santos apele ao facto de Montenegro agora ser primeiro-ministro e estar obrigado a responder perante o Parlamento, o primeiro-ministro ainda tem bastante tempo para usar a táctica dos governos PS. Costa fê-la render até ao fim.
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