2.1.25

Migrantes, irritantes e o que mais houver

 


«Recapitule-se a nada formosa cena da Rua do Benformoso, lugar multicultural onde a maioria da população portuguesa nunca pôs os pés. Há lugares melhores, e sobretudo há vidas melhores do que as daquela gente. Existe uma razão para mandar os revistados voltarem a cara para a parede. É impossível revistar uma pessoa e de um modo geral humilhá-la e tratá-la com autoridade olhando-a nos olhos. Olhar uma pessoa nos olhos, mesmo essa classe de subpessoas a que chamamos imigrantes, ou migrantes na terminologia neutra, implica reconhecer uma identidade, racial ou outra, e uma personalidade.

Ora quando se olha um cavalo nos olhos torna-se difícil chicoteá-lo e pô-lo a fazer piruetas, o olho do cavalo é um poço negro de ternura e sensibilidade, de inteligência, e com as pessoas corre-se esse risco de humanização da vítima ou da entidade que queremos submeter. Sobretudo pessoas de pele escura e traços alienígenas, falando línguas que desconhecemos e que para nós são todas iguais, com nomes que desconhecemos e não queremos conhecer e que servem apenas para isso, servir. Servir-nos.»


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