J.D. Vance e a Europa

 

«O discurso do vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, na cimeira do Munique, marca um ponto de viragem, um “antes” e “depois” nas relações entre Estados Unidos e Europa. Já sabíamos há meses que Elon Musk – o caniche de boné de Trump – era um activo defensor da Alternativa para a Alemanha, o partido de extrema-direita que está em segundo lugar nas sondagens das eleições do próximo domingo.

J.D. Vance não disse que só a AfD poderia “salvar a Alemanha” (como Musk tinha feito a 20 de Dezembro), mas fez a grande defesa da entrada dos neonazis para o governo e do fim das “linhas vermelhas”. A AfD é, além do resto, uma grande amiga de Vladimir Putin. O passado nazi da Alemanha transformou uma aliança deste género numa abjecção consensual. A avaliar pelos números da AfD nas sondagens, o consenso também já se foi. (…)

Estamos agora a assistir ao fim de uma era. Vem-me continuamente à memória, por estes dias desde que Trump tomou posse, um dos livros de Philip Roth de que mais gostei, que se chama “Conspiração contra a América”. Roth constrói uma narrativa sobre o que teria sido a história da América – e a da sua família judia – se em vez de ter sido Franklin Delano Roosevelt a vencer as eleições de 1940 tivesse sido Charles Lindbergh, o famoso aviador simpatizante nazi, que assistiu à abertura dos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936 ao lado de Hitler e que liderou por esses anos um movimento isolacionista chamado “America First”.»

Ana Sá Lopes