4.6.25

Já é tarde para acordar para a matança de Gaza. Foram cúmplices!

 


«A claque do PSG conseguiu furar o cerco alemão aos protestos contra o genocídio em Gaza, exibindo um enorme cartaz que dizia “Free Palestine” e cantando, nas ruas, “somos todos crianças de Gaza”. Foi mais fácil à subcultura do futebol, com as suas regras próprias, gritar nas ruas de Munique, contornando a mais perversa forma de lidar com a memória: a responsabilidade histórica por um genocídio serve para desculpabilizar outro genocídio, porque os autores do segundo são descendentes das vítimas do primeiro.

Mas é um resumo do comportamento da Europa (com raras, mas honrosas exceções, de que a vizinha Espanha é exemplo) e dos EUA perante o horror de uma ofensiva que sempre teve como objetivo a eliminação ou recolocação de grande parte população palestiniana de Gaza, que é a definição de genocídio. E vai, no momento certo, estender-se à Cisjordânia. De alguma forma, já começou.

Este crime foi cometido perante os nossos olhos. As declarações de vários líderes políticos israelitas, falando de responsabilidade coletiva pelo 7 de outubro e tratando os palestinianos como animais, foram claras no objetivo de tudo isto. Não foi um excesso. O massacre de 7 de outubro foi o pretexto para uma limpeza e expulsão que começou há muito tempo.

Não tenho escrito sobre o tema porque, de tão doloroso, já não sei como o fazer de forma racional. De tão evidente e revoltante, já não sei como o fazer de forma civilizada. De tão repisado, já não sei o que dizer que todos não saibam. Todos viram as vítimas dos massacres e do cerco de fome. Já não há mais nada para explicar. Os jovens universitários norte-americanos, arriscando carreiras futuras e dando uma lição de integridade aos que supostamente os preparam para a vida profissional, gritam-no há mais de um ano, recusando, de uma vez por todas, a abjeta chantagem da acusação de antissemitismo contra os que melhor aprenderam as lições do Holocausto. Antissemita é Netanyahu que, em nome da sua sobrevivência política, condenou os israelitas à insegurança permanente perante a inevitável e duradora sede de vingança.

Quem continua neutral ou apoia o governo de Israel, sabe do que é cúmplice. Sempre soube. E só o pode continuar a fazer sem consequências políticas porque não sofreu a pressão que sofreram, e bem, os que apoiaram ou foram condescendentes com a agressão russa à Ucrânia. O que também faz da comunicação social, pela disparidade de critérios, cúmplice da paralisia europeia.

É verdade que as posições começaram a mudar. Perante o incómodo das opiniões públicas com tantos cadáveres de crianças, até o chanceler alemão esboçou um sinal de humanidade, mas continuando a vender armas para a matança. É como escreveu Bruno Maçães, uma voz clara contra o genocídio: “Estão a preparar a mudança para uma condenação pública, sabendo que mais tarde poderá ser mais difícil fazê-lo de forma credível. Não se interessam ou se comprometem em tentar evitar a tragédia e o crime, ou teriam falado quando isso ainda era possível.” Chegaram tarde demais. Digam hoje o que disserem, foram cúmplices. Porque sempre souberam que este era o desfecho.

A Portugal, restaria a dignidade simbólica de, como fizeram outros Estados soberanos da Europa e pede a petição que assinei com tantos outros, não ficar à espera da autorização alemã e reconhecer, como é dever de quem diz defender a solução dos dois Estados, o Estado da Palestina. Não salva Gaza, mas salva mínimos de decência, se isso ainda for possível. Só que, para isso, era preciso que Portugal tivesse política externa. Só tem o ministério e o respetivo ministro.»


2 comments:

OLima disse...

O link está errado :(

Joana Lopes disse...

Clique no título do post.