7.11.25

Mamdani, socialista e radical

 


«E eis que um raio de luz e de esperança vem dos EUA. Não apenas de esperança para os nova iorquinos, mas também para aqueles que à esquerda ainda acreditam que o caminho não está em nos parecermos com a direita. Que acreditam que a obsessão com o centro e a moderação nos tornam desinteressantes, desnecessários e nos afastam de quem queremos representar e defender. Mamdani assumiu-se sempre, orgulhosamente, como socialista, num país onde parecia proibido ser-se socialista. Nunca teve medo de ser apelidado de radical, nem se esforçou por parecer moderado - a nova doença da social-democracia. Os tempos não são favoráveis à esquerda em lado nenhum do mundo, com excepção de algumas bolsas de resistência, mas o caminho não pode ser a desistência da esquerda e do socialismo democrático. A social-democracia tem de ser capaz de se reinventar, mas, até para o poder fazer com sucesso, precisa de fazer a sua auto-crítica. Ao longo de décadas, fizemos coisas extraordinárias, que mudaram a vida de muita gente. Mas não podemos ignorar que chegamos ao presente com demasiadas famílias em dificuldades. São demasiados os portugueses que beneficiaram pouco do crescimento económico que temos tido, apesar do seu trabalho. São demasiados os portugueses que lutam todos os dias para que o seu salário chegue ao fim do mês. São demasiados os que fazem das tripas coração para pagar a renda ou a prestação da casa. Demasiados os que se levantam todos os dias, de madrugada, para apanharem autocarros à pinha para irem trabalhar para as grandes cidades em troca de um salário que mal chega para viver. Demasiados jovens sem capacidade económica para se autonomizarem, apesar de terem estudado e de trabalharem. Enquanto olharmos para esta realidade, e nos limitarmos a responder com as coisas fantásticas que fizemos, sem termos a capacidade de assumir que as nossas políticas não foram suficientes para mudar a vida destas pessoas, nunca voltaremos a ter a sua confiança. Nem seremos capazes de reinventar as nossas políticas. Os de cima não têm razões para estarem zangados, a vida não lhes corre mal. Mas o povo, que confiava na social-democracia para os defender, tem.»

Pedro Nuno Santos no Facebook.

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