17.12.07

Amar a pátria até ao sacrifício


Volto ao livro sobre a Mocidade Portuguesa Feminina.

Andam por aí muitas tentativas de branqueamento do passado e frequentes declarações de inocência de pessoas e de instituições. É por isso bom trazer à luz do dia textos que falam por si.

A MPF, definia-se como apolítica e é evidente que nunca o foi. Basta ler os seus Objectivos da Formação Nacionalista, definidos em 1942 (*):

Dar a conhecer o passado de Portugal e a riqueza do “património lusitano, latino e cristão”;

• Preparar as gerações futuras para amarem a pátria “até ao sacrifício”;

• Transmitir os “princípios morais e patrióticos” que enformavam o “equilibrado nacionalismo do Estado Novo”;

• Apontar Salazar como o “realizador da Restauração económica e política do país, mas também, e sobretudo, da Reforma Moral tão necessária na nossa Pátria e que é base de toda a reconstrução nacional”;

• E dar como exemplo os “valores femininos da nossa História”, para formar raparigas “conscientes dos seus deveres de Cristãs e Portuguesas e convictas da necessidade de cooperarem, pelas suas virtudes, pelo seu aperfeiçoamento moral, na conquista dum Portugal Maior”.

Foram várias as gerações onde tudo isto ficou gravado, mesmo que mais ou menos inconscientemente. Os comportamentos foram condicionados, o medo assimilado, um orgulho nacional bacoco (que talvez ainda hoje condicone muitas coisas) imprimiu carácter.

Reavivar a memória afasta fantasmas. Liberta para o futuro - pelo menos assim o espero.

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(*) Fonte: Irene Pimentel, Mocidade Portuguesa Feminina, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2007, 240 p.
Foto: p.15. Texto: pp.88-89.

10 comments:

Anónimo disse...

este tipo de artigos ajudam a branquear...parece uma contradição esta afirmação que faço, mas, para quem não viveu, pode vir a achar coisas interessantíssimas, nessas transcrições daquela politica.

Anónimo disse...

Só poderá ler assim , caro anónimo quem não tem ou não lhe foram transmitidas condições básicas de leitura e interrogação do passado mais recente. Veja por exemplo o culto prestado aos manuais escolares de primeira e segunda classe que é feito por editores e clientes.
Talvez advenha da praga do saudosismo de que não nos libertamos que encontra eco nos excluídos de outros graus de ensino quando o ensino ainda não se universalizou , e é disso exemplo o insucesso escolar , o abandono mascarados com números de queda pela indigência política e ética deste governo.
Agora também governos eleitos branqueiam , e se branqueiam , bastauma escola fechada para se ouvir um coro de vozes , a dizer Salazar deixou uma escola em cada canto.... E para que o fez? Ninguém pergunta. chega-se lá pela subtracção. Este governo fá-lo de ´pé para mão, por razões economicistas e explica-o de uma forma autoritária , como antes se ensinava a rezar.

Não esqueçamos que Sócrates abriu o ano lectivo em Resende , com bispo e a rezar.
Está explicado como a igreja se serve do Estado, e o estado por meio do seu primeiro dela.
Um Estado, uma Nação, uma Religiâo... É o lema!

Joana Lopes disse...

Há sempre quem ache que no passado é que era bom.
Houve aliás blogues que «recuperaram», nesse sentido, o livro sobre a MPF a que me refiro. Há também observações desse tipo sobre «A Guerra» de J. Furtado.
Mas serão, felizmente, minorias. Alguém acredita que muitos jovens de hoje se revejam nos «ideais» que eu cito?...

Anónimo disse...

Provavelmente com a sua pergunta, tenha a minha resposta:Haverá jovens que se revejam etc,? e eu digo: à falta de melhor...pode ser.

samuel disse...

Por vezes, a grande dificuldade em contar aos mais novos a realidade tremenda e por vezes ridícula que se vivia neste país, está na nossa capacidade de os convencer de que o que dizemos é verdade e que se passava realmente...
Em conversas que por vezes tenho com malta mais jovem, que começam nas músicas desse tempo e depois vão por aí fora, já vi por vezes caras de incredulidade pura ou de quem acha que o "contador" está a gozar com a cara dos ouvintes.
Que fazer?!

Joana Lopes disse...

É natural, Samuel. Eles vivem estas coisas, quando lhas contamos, como nós ouvimos as histórias da implantação da República... São passado remoto.

Maglor disse...

Acerca do que o 1 dos nossos anónimos disse "Um Estado, uma Nação, uma Religiâo... É o lema!", posso apenas adicionar esta frase importante e em inglês, pelo que peço desde já desculpas por não traduzir...
«A UNITED EUROPE WOULD BE A CATHOLIC EUROPE, AS THE MAJORITY OF THE NATIONS ARE CATHOLIC.»

Para mim faz todo o sentido, quer eu concorde quer não. Várias nações tentaram muitas vezes acabar com as mãozinhas largas da igreja, inclusive expulsaram uma certa ordem que muito ajudava a igreja a alcançar os seus objectivos mais obscuros. Esses tais filhos de Loyola... Mas parece que a separação da igreja e estado nunca poderá acontecer enquanto houver "organizações secretas" a controlar poderes.

E digo isto sem querer entrar muito no ambiente das conspirações.

Anónimo disse...

é capaz de lhe interessar o programa das actividades da universidade católica para os proximos meses:

12 de Janeiro
«Os protestantes na Primeira República»
Dr.ª Rita Mendonça Leite

9 de Fevereiro
«Da parada militar à educação religiosa: o lugar da Igreja na Mocidade Portuguesa (1936-1945)»
Doutora Maria Inês Queiroz

8 de Março
«O CADC de Coimbra: o universo da democracia cristã na primeira metade do século XX em Portugal»
Mestre Joana Brites

12 de Abril
«A liberdade religiosa no II Concílio do Vaticano»
Doutor Hugo Chelo

9 e 10 de Maio
Jornadas sobre «Motivações e politização dos católicos na década de 60 no Portugal novecentista» (programa a divulgar)

Joana Lopes disse...

Último anónimo: Obrigada, interessa-me, sim. Vou tomar nota.

Anónimo disse...

O Estado é o Estado , a Igreja Católica é a Igreja Católica, pareço
ingénuo ao dizê-lo, no entanto não o sou , só por apontar uma evidência . Sei das entrelinhas do que fala, até aponto a mais recente compra de uma Escola. Sabe? .
Sei bem como a relações se entretecem no obscuro, e a política e os políticos muitas vezes não lhe são alheias.
Expurgue-se por cá !
Todos sabemos e todos falamos por entrelinhas.
Não sei se toda a Europa é católica , parece-me que não , mas vou pensar na Europa protestante, e verificar, a tal Europa patroa para ver se coincide.
Sei que há paises »ricos» católicos assim como há protestantes, como você sabe.
O que me indigna e é humilhante para os portugueses e os políticos
é não haver essa separação clara, e dá-la como evidente.
A Igreja católica portuguesa e um atraso do desenvolvimento português , como apontou Antero.... Em Portugal deve ser muito pior em termos de sub-sub- desenvolvimento mental, é estranho não é , mesmo se compararmos com Espanha!!
Ninguém se indignou com o acontecimento de RESENDE, só o fotógrafo , soube tirar proveito disso ...