A Assembleia da República aprovou esta manhã um voto de pesar pela morte do cónego Melo, proposto pelo CDS, apoiado pelo PSD e recusado pelo PC e pelo BE. O PS absteve-se, mas cerca de trinta dos seus deputados abandonaram a sala, bem como todos os do BE.
Nem sequer me interessa discutir ou confirmar se o cónego Melo assumiu ou não (parece que sim) a sua pertença ao MDLP (Movimento de Libertação de Portugal), por que razões não chegou a ser julgado, se esteve ou não directamente envolvido no assassinato do padre Max.
Quem tem memória e idade para tal, recorda-se certamente da actuação e das declarações públicas, absolutamente tenebrosas, desta figura que envergonhou a Igreja e o início da nossa democracia.
Sublinho e reforço: o PC ficou na sala e respeitou, de pé, o minuto de silêncio, o PS absteve-se dizendo que «jamais votaria contra o pesar pela morte de alguém». De ninguém? Nem se fosse Salazar? Hitler? Deixou hoje e deixaria, em qualquer circunstância, aprovar, em NOSSO nome, o NOSSO pesar? Porque tenhamos consciência de que foi isso que aconteceu - e que foi expressamente assumido.
Tudo tem limites. Desta vez, foram excedidos.
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P.S. - Numa primeira versão do texto, o CDS referia mesmo o cónego Melo como «um homem de Abril». É a isso que Luís Fazenda se refere no início da intervenção que pode ser vista aqui. Assista também ao minuto de silêncio e veja a triste figura do PC.
Nem sequer me interessa discutir ou confirmar se o cónego Melo assumiu ou não (parece que sim) a sua pertença ao MDLP (Movimento de Libertação de Portugal), por que razões não chegou a ser julgado, se esteve ou não directamente envolvido no assassinato do padre Max.
Quem tem memória e idade para tal, recorda-se certamente da actuação e das declarações públicas, absolutamente tenebrosas, desta figura que envergonhou a Igreja e o início da nossa democracia.
Sublinho e reforço: o PC ficou na sala e respeitou, de pé, o minuto de silêncio, o PS absteve-se dizendo que «jamais votaria contra o pesar pela morte de alguém». De ninguém? Nem se fosse Salazar? Hitler? Deixou hoje e deixaria, em qualquer circunstância, aprovar, em NOSSO nome, o NOSSO pesar? Porque tenhamos consciência de que foi isso que aconteceu - e que foi expressamente assumido.
Tudo tem limites. Desta vez, foram excedidos.
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P.S. - Numa primeira versão do texto, o CDS referia mesmo o cónego Melo como «um homem de Abril». É a isso que Luís Fazenda se refere no início da intervenção que pode ser vista aqui. Assista também ao minuto de silêncio e veja a triste figura do PC.
13 comments:
É graças a pessoas como o Cónego Melo que eu hoje em dia não sou obrigado a pensar como você!
Mas uma coisa é certa. Esta assembleia da MERDA é a mesma que recusou um voto de pesar pelos 100 anos do Regicidio.
Este voto de pesar é um gesto que, como português e democrata, me envergonha.
Não sei quem é este senhor Luís Bonifácio. Mas sei que se as pretensões do Cónego Melo e de outros como ele tivessem vencido no 25 de Novembro nós hoje provavelmente seríamos obrigados a pensar como ele.
Não sei se foi invocado o caso, ao que sei ainda pendente, do assassinato do Padre Max e da estudante Maria de Lurdes. E se ficaram claramente expostas à opinião pública as constantes de declarações do Melo, ou os sermões que proferiu, em apoio da violência.
Sobre a posição do PCP, digamos que o tradicional «respeitinho» pelas igrejas fica para dentro de portas.
Não ouvi todo o debate, Rui, e não sei, portanto, se ontem foi referido, concretamente, o caso do padre Max. Para a opinião pública, passou só o episódio do voto.
É espantoso como ainda há cidadãos tão obsoletos e merdeiros como o lb.
Fui obrigado a conhecer o cónego melo e tenho por ele uma antipatia forte e sustentada. Ele era abjecto, interesseiro, perigoso e anti-democrata. Servia-se da Igreja para fins inconfessáveis. Que o digam os famosos "corrécios"(*) de Braga. Até era destestado no seio da própria hierarquia da igreja.
(*)Os "corrécios" era um grupo de terroristas a mando do cónego maltratavam pessoas e incendiaram sedes de partidos e de associações, sobretudo durante o chamado verão quente.
José Casimiro
Aquando da sua morte a TSF repescou uma entrevista com o sinistro personagem que não deixa de ser interessante ouvir. Pu-la lá no antro:
http://womenageatrois.blogs.sapo.pt/789792.html
Obrigada, Shyz
A imagem do post tinha ofuscado o link para a entrevista.
Fui lá agora, mas não consegui ouvir. Tentarei mais tarde. Provavelmente, já não está no ar.
Com todo o respeito, não creio que haja muita objectividade e isenção quando se fala da «triste figura» do PCP por causa do minuto de silêncio (que é uma coisa políticamente muito mais neutra que um voto de pesar)e não se fale de «triste figura» a respeito da abstenção do PS.
Por fim , vamos a ver se aqui encontro resposta clara para uma dúvida que tenho e me atormenta : AS TÃO CORAJOSAS DEZENAS DE DEPUTADOS DO PS E DO PSD QUE ABANDONARAM A SALA COMO É QUE VOTARAM O VOTO DE PESAR APRESENTADO PELO CDS ?.
É que, se não votaram contra, faltaram ao seu elementar dever de coragem e, por isso, não deviam merecer nenhum elogio.
Caro Vítor,
Primeiro alguns dados, depois um comentário.
Tudo o que sei vem da comunicação social, ontem mesmo e hoje em tudo o que é jornal.
Foi um «voto de pesar», sim, assim designado por todos, com texto específico que até foi alterado durante a discussão. Não foi uma simples proposta de um minuto de silêncio.
Tanto quanto sei também, os deputados do PS e do PSD que saíram, fizeram-no antes da votação, os do BE depois.
Quanto ao que o Vítor diz. Eu acho MAIS GRAVE a atitude do PS do que a do PC – erro meu se o induzi em erro. Na minha opinião, o PS, com a sua maioria absoluta, tinha o DEVER de não deixar passar o voto – só ele o poderia ter feito.
Mantenho o que disse sobre o PC. Julgo que já me leu o suficiente para saber que não sou uma anti-comunista primária (embora discorde, muito frequentemente, das posições do PC). Talvez por isso mesmo, custou-me ver os seus representantes de pé, na sala, em vez de terem saído depois do voto. Alguma razão para não o terem feito? Já depois de escrever o «post», revi o vídeo e verifiquei que havia duas pessoas sentadas, que me pareceram os Verdes, mas sem nenhuma certeza. Tivessem todos os deputados do PC feito o mesmo e eu não teria falado de «triste figura».
Continuemos a ler-nos um ao outro, a tentar perceber o quê e como. Mesmo com divergências – que são certamente profundas, mas que nunca impeçam o diálogo.
Um abraço
Cara Joana Lopes:
Agradeço as suas opiniões e informações, embora eu não pense que o meu comentário a obrigasse necessariamente a distanciar-se do «anticomunismo» porque, quando escrevi, nada disso me passou pela cabeça.
À parte este breve prólogo, duas notas:
- a primeira é para reter que a Joana refere que «Tanto quanto sei também, os deputados do PS e do PSD que saíram, fizeram-no antes da votação»; ou seja confirma-se que não tiveram a coragem de votar contra. Portanto, nem mesmo esses podem ser equiparados aos deputados do PCP que, como é sabido, VOTARAM CONTRA;
- a segunda é para explicar que até nem falei com ninguém da direcção do PCP ou do seu grupo parlamentar para saber que juízo esteve na base da participação de deputados do PCP no minuto de silêncio; mas tenho a experiência política suficiente para saber que há decisões muito dificeis de tomar em cma da hora; e admito sem custo que se eu próprio estivesse no lugar deles poderia orientar-se por este critério : um voto de pesar é um instrumento político parlamentar baseado num texto enquanto um minuto de silêncio é normalmente e em toda a parte uma atitude de respeito perante uma morte (e não se deseja a morte a ninguém).
Sabe Joana, eu já vi e vivi o suficiente para, se estivesse naquela altura na primeira fila da bancada do PCP, pensar assim: «se não participamos no minuto de silêncio, não faltará quem diga que somos de aço, que nem perante a morte de alguém só capazes de uma atitude de respeito e que a morte dos nossos inimigos até nos é vontade de festejar».
Receba as minhas mais cordiais amigas saudações
Os biólogos têm razão. Isto do ADN tem mesmo influência nos comportamentos humanos ( e políticos digo eu).
O PS sempre navegou nas águas do NIM. Está no seu ADN.
O actual CDS teve um ataque de nostalgia dos tempos em que andava misturado com bombistas e incendiários.
O PCP, na sua deriva anarco-sindicalista, já não surpreende.
Talvez tenham confundido MDLP com
FARC e por isso cumprido o minuto de silêncio.
Augusto
O cinismo das pessoas às vezes enoja-me. Quando se trata de censurar, e de recorrer ao politicamente correcto para apelidar o PCP de partido hipócrita, toda a gente se lança como gato a bofe. Mas, em simultâneo, quase toda a gente, incluindo a autora do blogue, considera que a pessoa alvo do voto de pesar foi um atentado ao regime democrático, um porco fascista que nem sequer devia ter nascido. Quando será que as pessoas deixam de falar pela cassete do pós-25 de Novembro, e começam realmente a ver quem é que faz alguma coisa pelos deserdados e cada vez mais empobrecidos deste país?
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