ADENDA (*)
Recordando que, há um século e meio, a ideia de ter um afro-americano como presidente não era apenas utópica mas impensável, o Público (Espanha) traz hoje um interessante artigo sobre as origens do movimento abolicionista nos Estados Unidos.
«A finales del siglo XVIII comenzaron a organizarse fugas en tren de afroamericanos que escapaban de las plantaciones del Sur para alcanzar los estados del Norte y Canadá. La estructura se afianzó y empezó a conocerse, desde 1831, como El ferrocarril subterráneo (The Underground Railroad).»
(*) Contributo de Luís Bonifácio:
Existe um página especial sobre o "Underground railway".
4 comments:
OS Espanhóis decididamente não têm jeito para as línguas.
O Underground railway foi um sistema montado por abolicionistas para ajudar à fuga dos escravos para estados onde a escravidão era proibida. A fuga não se processava através de comboios (apenas pontualmente), mas sim através de uma sucessão de casas seguras até ao destino final.
Há uns anos atrás a National Geographic publicou um excelente artigo sobre isto.
Tem toda a razão, Luís, também notei isso mesmo ao ler o artigo. Deixei o mesmo título, com a palavra «comboio», entendendo-a no sentido figurado.
O artigo não se encontra nos arquivos da National, mas existe um página especial sobre o "Underground railway"
http://www.nationalgeographic.com/railroad
O artigo do Público é de facto giro.
Eu não vou aconselhar o livro De l’esclavage au salariat – Économie historique du salariat bridé, de Yann Moulier-Boutang, PUF, 1998, porque é um livro difícil de obter, imenso nas suas 700 e tal páginas, penoso na sua leitura, nem vou catá-lo de forma a encontrar os elementos que me permitissem enquadrar o episódio narrado no Público num movimento de grande importância histórica, em que caberia; vou apenas dizer alguma coisa do que eu julgo poder retirar de tal livro e procurar fazer com isso esse enquadramento. De forma errada, talvez, mas formulado de maneira simples, para não dizer primária.
O capitalismo, sob diversas formas, começa em épocas longínquas e não a partir das vésperas da 1ª Revolução Industrial. E esses vários capitalismos tiveram sempre como problema de base a fixação do trabalho dependente. Esse trabalho dependente, com idas para trás e para diante, tomou várias formas, inclusive a da Segunda Servidão da Europa central. Muito tardia em relação à primeira, àquela do medievo. E o que vai acontecendo para que se faça essa fixação do trabalho dependente é extremamente complicado, e, por incapacidade minha, e não menor falta de espaço, não vou adiantar-me.
A ideia é a de que as formas de trabalho se submetem a uma ordem, muito importante esta, a de surgirem simplesmente para que o trabalho dependente fosse fixo e à disposição de quem dele precisasse para criar valor ou um sobrevalor de que se apropriasse. Mais, a própria organização da produção é condicionada para que existisse e se criasse tal trabalho dependente. Nas suas mais variadas formas.
O antiesclavagismo comportava, também, em muitos casos, uma doutrina, a boa doutrina para um melhor funcionamento do sistema. O próprio capitalismo vai fazendo as suas revoluções para que, reproduzindo-se, se reproduzisse também o trabalho dependente de que dependia. Espero que, nesta sua nova época de crise, não tenha agora essa capacidade. E que caminhemos para e que construamos, como?, a grande mudança.
A primeira arma, senão a mais importante desde sempre, da luta de classes foi o bordão da fuga. Em todas as suas formas, o trabalho dependente foi sofrendo uma contínua e significativa sangria pela recusa, pela fuga. Reprimida, regularizada... de muitas formas. O artigo do Público ilustra isso de forma interessante.
E a propósito de Lincoln e isto não é do livro do Moulier-Boutanng: cito. de memória e de forma mais ou menos aproximada, o que teria chegado a dizer, “Se para a sobrevivência da União é necessário o desaparecimento da escravatura, lutaremos por isso, mas se para esse fim esta fosse necessária nem um só escravo seria livre”. Esta citação é, muito provavelmente, mais a do significado do que a da sua forma. A memória não dá para tudo.
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