22.11.08

Holodomor












Durante as cerimónias comemorativas do 75º aniversário do Holodomor, Victor Iuschenko, presidente da Ucrânia, pediu à comunidade internacional que condenasse os crimes do regime soviético:

«"Hoje, estamos unidos pela memória sobre uma das maiores catástrofes da história da humanidade e da vida da Ucrânia", declarou Iuschenko, em Kiev, durante as cerimónias comemorativas do 75º aniversário do Holodomor, fome artificialmente provocada pelo ditador comunista José Estaline, nos anos 30 do séc. XX, com vista a obrigar os camponeses a aderir à colectivização. (...)
"Foram exterminados sem piedade milhões de inocentes, metade dos quais eram crianças. Ao mesmo tempo, foram liquidados intelectuais, escritores, cientistas, professores, sacerdotes, todos os que pudessem contrapor a mais pequena resistência intelectual", frisou.
Segundo Iuschenko, "o regime comunista, durante décadas, tentou matar também a memória sobre as vítimas da tragédia. Todas as recordações sobre a tragédia foram proibidas e severamente castigadas".(...)
O Presidente russo, Dmitri Medvedev, recusou-se a participar nas cerimónias, acusando o dirigente ucraniano de estar a utilizar esse acontecimento com fins políticos e nacionalistas.
O Kremlin condenou os crimes do estalinismo, nomeadamente as grandes fomes dos anos 30 do séc. XX, mas considerou que não se tratou de um genocídio, pois Estaline não assassinou milhões de ucranianos, mas também milhões de russos, cazaques, judeus.
Esta polémica tem azedado as relações russo-ucranianas nas últimas semanas.»

10 comments:

Anónimo disse...

ola,

fiz uma ronda pelos "meus" blogues e só o der terrorist e o entre as brumas da memória assinalam a efeméride.
(ah, e na caixa de comentários do meu, dois links do antónio vilarigues)

cumprimentos

j simões

Joana Lopes disse...

Obrigada, J.Simões.

Fui ao seu blogue e abri os links lá deixados pelo António Vilarigues. Guardei-os e hei-de ler - pelas introduções, os documentos parecem-me elucidativos.

Anónimo disse...

Uma parte das pessoas que criticaram o "Livro Negro do Comunismo" na altura da sua saída - obra histórica imperfeita, sem dúvida, mas com muita informação fidedigna baseada em arquivos identificados - aceitaram os números das purgas, dos massacres e do Gulag, mas teimaram em considerar que aqueles milhões de mortos não contavam para as estatísticas negras do estalinismo, uma vez que a sua morte não teria resultado de decisões políticas, mas sim de «lamentáveis erros». O que não parece sustentável, como se pode ver.

Anónimo disse...

Ah, fui ver os tais links. Pelo que ali se pode ver, para outros nem de «lamentáveis erros» se tratou. Foram simplesmente factos que não aconteceram. O estalinismo puro e duro mais a sua manipulação/apagamento da História. Para quem duvidasse que eles «andem aí», sem vergonha e de cara descoberta.

Anónimo disse...

A fome artificial matava~se com a sardinha p´ra três e o copo de três p´ra um. No outro extremo da europa. Na Ucranea como seria?

Mas eles lá não tinham estes produtos e visto tudo a esta distância, e vendo tambem o que se seguiu por toda a europa...dá cá umas saudades!!!

Joana Lopes disse...

Entretanto, já li os textos aconselhados por António Vilarigues na Caixa de Comentários do Der Terrorist e aqui referidos pelo J. Simões.

Deixo os respectvios links:

http://www.hist-socialismo.com/docs/Mentiras%20sobre%20a%20historia%20da%20Uniao%20Sovietica.pdf

http://www.hist-socialismo.com/docs/Un%20autre%20regard%20sur%20Staline.pdf

Aconselha-se vivamente a leitura a quem queira voltar a sentir a presença do estalinismo, agora em formato pdf.

Anónimo disse...

Do bom uso da Memória!

A Ucrânia tem um pesado problema, o da construção duma identidade nacional. É uma empresa que se tem mostrado difícil. Com duas concepções sobre a sua origem: a origem, comum com a Rússia, na Rússia de Kiev; ou, a muito mais ocidentalizada, a origem no Grande Ducado da Galícia, (desculpem se há erro na grafia). Com duas ideias sobre o que deve ser, ou uma protecção contra a Rússia ou a dum elo entre o Oriente e o Ocidente, entre a Europa Ocidental e a Oriental. E acrescenta-se a isto a concepção de uma nação mais ou menos rival da Rússia que tem vindo a ser sua vítima.
País (a zona em que se encontra) que sai da alçada do Império Otomano no século XVIII, que durante muito tempo tem uma história confusa e instável, gozando por pouco tempo da independência, que herda de tal passado fortes minorias irregularmente distribuídas, duas Igrejas fortes, desigualdades e diferenças de múltipla natureza em que o religioso, o económico, o político e o cultural cobrem o regional, e em que até as elites e as suas “culturas” têm geografia própria, país com aumentos ou diminuições do seu território, país que chega a dividir-se perante o inimigo durante a 2ª Guerra Mundial.
Esqueça-se do que se passa hoje com a Ucrânia no campo internacional. Bastará o que está dito para compreender como o Estado ucraniano usa também, como cimento duma identidade nacional a fortalecer, a memória da fome e da repressão de 1932-3. Repare-se apenas como está procedendo o Presidente da Ucrânia.
Significa isso que foram menores os crimes cometidos pela União Soviética, pelo estalinismo? Não!
Depois da reconquista da Ucrânia pela Rússia, em 1920, o poder russo desenvolveu uma política de certa tolerância. Procurava-se o apoio ao “processo... em curso”. Daquela parte da Ucrânia que tinha ficado na parte ocidental, depois da paz de Brest-Litovsk, passava-se o contrário. Uma dura política de submissão. A abertura do lado russo era aliciante.
Nesse período a intelectualidade ucraniana, os quadros, alguns dirigentes do Partido Comunista aplicaram-se numa edificação da identidade nacional. O ucraniano era já língua oficial, os funcionários para o serem tinham de a falar, há um começo de literatura, etc. Depois do que se obtivera nesta frente cultural e linguística passaram a prevalecer as reclamações económicas (e políticas).O fim da exploração pela União Soviética, etc..
É nessa altura, 1932, que Estaline “corrige a situação”. Caçam-se os nacionalistas burgueses, os intelectuais, os artistas e os quadros e lá vão eles para as primeiras filas da “geração fuzilada”.
E é também nessa altura que Estaline resolve forçar a colectivizarão da agricultura na Ucrânia. Havia resistência da parte dos camponeses. A Ucrânia, “celeiro de trigo” do Império Russo tinha para essa colectivização uma grande importância. Então, marcham batalhões de operários para se apoderarem das colheitas e fuzilam quantos se opõem ou talvez até um pouco mais do que esses. Confiscadas as colheitas, Estaline provoca deliberadamente uma política de fome. Ao fim, são 5 ou 6 milhões de mortos um dos resultados. Os outros, naturalmente, foram a redução do nacionalismo ucraniano que sempre preocupou o Poder Soviético e o prosseguimento da colectivização.
Pois, desta Memória um Presidente da Ucrânia faz hoje o “bom uso”
E se o Império Russo era a “prisão dos povos”, o Estado Soviético fez melhoramentos e acrescentou-lhe um largo pátio de execuções.

N.B. Segui o « Dictionnaire de Geopolotique », sous la direction de Yves Lacoste, Flammarion, 1993

Anónimo disse...

Joana Lopes,

Talvez valesse a pena discutir os argumentos apontados nos referidos links em vez de catalogar tudo e de forma taxativa de "estalinismo".

Já agora procure num dos números da revista académica American Historical Review de 1993 um artigo dos historiadores Arch Getty e de Gabor Rittersporn onde evidenciam que entre 1934 e 1953 o número de mortes poderá ter sido de cerca de 454 mil. Aproveite para o ler e de seguida envie-lhes um mail a chamar-lhes de estalinistas. Vai ver que terá o seu prodigioso exercício de classificação teórica imediatamente publicado naquela revista cadémica prestigiada...

Joana Lopes disse...

João Valente de Aguiar,

Obrigada pela sua participação.

Quanto à discussão dos textos referidos nos links:
1- Não é certamente adequada para uma Caixa de Comentários.
2-Fá-la-ei mais tarde (ou não), se assim o entender.
3-Mas teria muito gosto em lê-la no seu blogue. Se se decidir pela positiva, avise aqui, sff, e lê-la-ei imediatamente.

Quanto ao número de mortos que refere (454.000), só não me faz rir porque, em estatísticas de perda de vidas humanas nas circunstâncias em que estas se deram, qualquer número peca por escandaloso excesso.

Anónimo disse...

Adorei os comentarios, estou ha muito vendo essas questoes, dos eslavos que foram enviados ao Brasil para a politica brasileira do branqueamento, eles escaparam do HOLODOMOR de lah, como chamaremos MORYTY GHOLODOM que aconteceram por aqui mesmo no sul do Brasil e por muitos mais anos?
Tudo me ajuda nessa busca.