Os jornais noticiaram ontem que os deputados portugueses ao Parlamento Europeu vão ver os seus salários brutos duplicados, a partir das próximas eleições de Junho (passando de 3.815 para 7.665 euros mensais).
O assunto está longe de ser uma novidade, há anos que se fala desta «harmonização» para que os representantes de todos os países ganhem o mesmo. O princípio parece-me discutível porque os portugueses gastam uma parte significativa do que ganham em Portugal, onde os preços são certamente mais baixos do que na Suécia. É possível pagar os salários do país de origem e introduzir factores de correcção. Falo por experiência própria porque foi o tratamento que tive quando trabalhei três anos em Bruxelas, «destacada» por uma multinacional, e garanto que o saldo da minha conta bancária foi sempre muuuuito confortável.
Mas o que considero absolutamente chocante é que, no mínimo, não se suspenda a entrada em vigor da decisão em causa. Em plena crise – sem fim nem fundo à vista – a Europa, sobranceiramente, soma e segue e obriga-nos (sim porque somos nós, contribuintes portugueses que vamos desembolsar o dinheiro) a duplicar salários de alguns de nós. O acréscimo poderá nem ter um grande impacto em termos quantitativos porque o número de deputados não é elevado. Mas tem importância, simbólica e eticamente, porque é também com alguns gestos e uns tantos princípios que poderemos começar a ver luz ao fundo de um longo túnel - a escuridão nunca foi boa conselheira.
2 comments:
a situação é ainda mais absurda quanto é evidente que o custo de vida está muito mais baixo hoje do que há um ano: baixaram o preço da gasolina, do supermercado, das roupas...
Também, mais uma razão.
Mas é a falta de sensibilidade social que mais me choca na entrada em vigor desta medida.
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