2.3.09

Que esperar não é saber











Com pouco mais de um dia de intervalo, foram publicados na blogosfera dois testemunhos de vida extraordinários: o de Daniel Oliveira, 10 anos depois, na primeira pessoa e o de João Tunes, Política e pertença. De gerações diferentes, com percursos que se cruzaram mas com presentes bem distintos, abrem-nos a vida com calma, frontalmente e com uma grande honestidade. Mas param aqui as semelhanças. Daniel Oliveira descreve um passado que desemboca – e bem – na sua actual militância no Bloco. João Tunes descreve a tragédia de quem «corta» sem arranjar substitutos.

«Mas romper significa perder amigos, perder olhares cúmplices, perder as bússolas que nos orientam as leituras, os olhares e as opiniões, é passar a viver com a sensação de inutilidade dos melhores anos da nossa vida, habitar uma terrível sensação de termos sido demasiado estúpidos durante demasiado tempo. É experimentar a perplexidade do absurdo. É sentir que somos uma árvore com as raízes de fora da terra. E conseguir viver com isso. E ser capaz de fazer o luto. Porque é um drama incontornável. E cada um, humanamente, procura fugir das dores dos dramas. E das trevas. E da solidão. Continuar um jogo em que nunca aprendemos a jogar sozinhos. E que não se pode jogar sozinho.»

Só quem não passou por situações semelhantes, quem não deixou para trás um mundo inteiro sem arrastar amarras à espera nem sei de quê, quem não optou por viver os lutos por mais insuportáveis que parecessem, é que não se reverá, com algum emoção, neste belíssimo texto. Com uma pequena precisão quanto ao excerto acima transcrito: é que, ao contrário do que possa parecer, acaba-se mesmo por aprender a jogar sozinho – e com uma felicidade redescoberta, sem paralelo com qualquer outra.

2 comments:

septuagenário disse...

Nos tempos em que não havia ateus, a juventude acreditou em tanta coisa!

E hoje a juventude acredita em quê?

Felizes daqueles que não tiveram nem direito a farda da mocidade portuguesa porque deles é o reino dos céus!

Anónimo disse...

O texto do Joao é uma maravilha! gostei muito!
Um abraço
Rosa