29.7.09

Novos precários














A Associação República e Laicidade publicou ontem um comunicado sobre o recente acordo entre Estado e Igreja, a propósito da assistência religiosa em instituições públicas.

Retomo o seguinte parágrafo (o realce é meu):

«A Associação República e Laicidade reafirma que o primeiro direito, em matéria religiosa, de qualquer cidadão internado num hospital, conscrito nas forças armadas ou detido num estabelecimento prisional, é receber assistência religiosa de uma determinada confissão religiosa apenas e somente se manifestar vontade expressa de a receber dessa exacta confissão religiosa. Colocar um cidadão na situação de ter que rejeitar assistência religiosa que não pediu, como acontece actualmente, é uma diminuição do seu direito à liberdade de consciência e à privacidade, particularmente grave numa situação de confinamento hospitalar, militar ou prisional.»

Não posso estar mais de acordo. Há meia dúzia de anos, passei semanas em hospitais públicos, como acompanhante, e confirmo que é absolutamente confrangedor ver a aflição que muitos doentes demonstram ao recusarem a ajuda do padre que entra na sala, ou o ar conformado com que a aceitam. Em clara situação de inferioridade, pela doença, pela exposição ao olhar dos outros, até pelo vestuário que exibem, é inaceitável que sejam expostos a mais uma prova complicada, pelo proselitismo piedoso e descabido de uns tantos.

Já agora: leio que estes padres deixaram de ser contratados, que passaram a engrossar as fileiras dos utilizadores de recibos verdes e que serão pagos pelo número de assistências que prestarem. Quem contabiliza, como e o quê?

5 comments:

Luís Bonifácio disse...

Nota-se que os membros desta associação não são utilizadores do SNS, para além de poderem viver sem trabalhar.
Quando alguém está internado num hospital publico ter alguém que se interessa pelo seu estado de saúde é uma benção, mesmo que seja um Aiatola.

Joana Lopes disse...

Já que se paga, a mesma função pode e deve ser exercida por assistentes sociais ou similares, não?

Nuno Gaspar disse...

...até pela Joana ou pelo Ricardo Alves se para isso tivessem disponibilidade e interesse. Aplaudiria e daria por bem empregue o dinheiro dos impostos que pago. Mas pelo que está à vista as suas prioridades e motivações são outras.

João Gaspar disse...

isto deveria ser tão simples, não devia? mas, por paradoxo, é complicadíssimo.

a assunção (assumpção? nunca sei esta) de uma religião, perpetuada em parte pelos baptismos a bebés analfabetos, tem raízes profundíssimas difíceis de expurgar.

no caso dos hospitais e quejandos, é mau demais quando o estado não só avaliza como incita (ou pelo menos pactua com) esta elementar intromissão nos direitos individuais de liberdade e privacidade.

Luís Bonifácio disse...

Os assistentes sociais não são para aqui chamados.

Deveriam ser os próprios enfermeiros e médicos