O título é tirado do último parágrafo de um post que o Zé Neves escreveu ontem:
«A comunidade blogoesférica, uma espécie de parlamento sem gravata nem regimento, se existe e se foi inventada por alguém foi por uma geração de nove ou dez bloggers (digo geração porque é assim que se gostam de ver) que reivindicou para a blogoesfera política um estilo próprio de acção, uma geração que passa a vida a dizer que é de esquerda como os partidos já não são e que é de direita como os partidos já não são e que, ainda assim, sendo mais ideologicamente “livre” e “frontal”, tem amigos de um e de outro lado da barricada.» (Leia-se o resto do parágrafo.)
Não sei se como causa ou se como efeito do que o Zé Neves caracteriza bem, mas certamente com alguma conexão embora ela possa não ser óbvia, assistimos a uma verdadeira explosão do número de grandes blogues colectivos - nascidos do zero, por cisões ou «re-cisões» -, bem como ao reforço numérico dos já existentes. Com as costas protegidas pela pertença a um grupo e pelos valores do Sitemeter, os tais poucos bloggers que o Zé Neves refere (pessoalmente penso que são mais do que nove ou dez), falam e argumentam de blogue para blogue, quase sempre em nome da esquerda ou da direita, em amiguismo ou ao ataque, mas com a tal «cumplicidade de geração» que tudo permite, dos beijinhos ao insulto. São eles os verdadeiros líderes de pequenos exércitos de turbo-bloggers que acabam por se desdobrar, quantas vezes com os mesmos textos, em duas ou mesmo em três arenas. Transformaram os blogues em conjuntos de colunas de notícias e de opiniões avulsas, que pretendem substituir o papel dos jornais, tal como – e regresso agora ao texto do Zé Neves – os tais blogolíderes se movem «numa espécie de demarcação em relação à política dos partidos e seus dirigentes». Em paralelo, deixam morrer pouco a pouco os seus blogues individuais, por vezes excelentes.
Com lugar para as louváveis excepções a todas as regras, estes grupos de pessoas, que muitas vezes nada têm a ver umas com as outras e que escrevem em paralelo com pouco ou nenhum valor acrescentado pelo facto de se apresentarem em conjunto, pretendem, como grupo, usar a força de pressão que o ranking no Blogómetro lhes confere e, individualmente, o prazer de serem lidas por multidões (extraordinário objectivo de vida cuja compreensão me ultrapassa). Tudo isto tem como consequência inevitável que cada blogue publique catadupas de posts por dia e provoque a existência de dezenas, ou mesmo centenas de comentários a um único post, o que gera a impossibilidade de o próprio autor os ler todos e, no leitor, a frustração de ter formulado uma pergunta honesta que nunca chega a merecer uma resposta. (E já nem falo da insanidade de grande parte das Caixas de Comentários dessas poderosas máquinas…)
Nada disto era assim há três anos, nem mesmo há dois, e talvez valha a pena perceber por que razões aqui chegámos. Note-se que até aprecio blogues de mais de uma pessoa, se possível de um grupo muito pequeno e razoavelmente homogéneo, em que se sinta a «cola» da cumplicidade entre os seus membros e a preocupação de manterem um espaço de debate calmo e civilizado. Mas encontrá-los, hoje, é como esbarrar com uma agulha no fundo de um palheiro.
Enfim, contra factos valem pouco as evidências e eles, os factos, estão aí e não me dão razão.
«A comunidade blogoesférica, uma espécie de parlamento sem gravata nem regimento, se existe e se foi inventada por alguém foi por uma geração de nove ou dez bloggers (digo geração porque é assim que se gostam de ver) que reivindicou para a blogoesfera política um estilo próprio de acção, uma geração que passa a vida a dizer que é de esquerda como os partidos já não são e que é de direita como os partidos já não são e que, ainda assim, sendo mais ideologicamente “livre” e “frontal”, tem amigos de um e de outro lado da barricada.» (Leia-se o resto do parágrafo.)
Não sei se como causa ou se como efeito do que o Zé Neves caracteriza bem, mas certamente com alguma conexão embora ela possa não ser óbvia, assistimos a uma verdadeira explosão do número de grandes blogues colectivos - nascidos do zero, por cisões ou «re-cisões» -, bem como ao reforço numérico dos já existentes. Com as costas protegidas pela pertença a um grupo e pelos valores do Sitemeter, os tais poucos bloggers que o Zé Neves refere (pessoalmente penso que são mais do que nove ou dez), falam e argumentam de blogue para blogue, quase sempre em nome da esquerda ou da direita, em amiguismo ou ao ataque, mas com a tal «cumplicidade de geração» que tudo permite, dos beijinhos ao insulto. São eles os verdadeiros líderes de pequenos exércitos de turbo-bloggers que acabam por se desdobrar, quantas vezes com os mesmos textos, em duas ou mesmo em três arenas. Transformaram os blogues em conjuntos de colunas de notícias e de opiniões avulsas, que pretendem substituir o papel dos jornais, tal como – e regresso agora ao texto do Zé Neves – os tais blogolíderes se movem «numa espécie de demarcação em relação à política dos partidos e seus dirigentes». Em paralelo, deixam morrer pouco a pouco os seus blogues individuais, por vezes excelentes.
Com lugar para as louváveis excepções a todas as regras, estes grupos de pessoas, que muitas vezes nada têm a ver umas com as outras e que escrevem em paralelo com pouco ou nenhum valor acrescentado pelo facto de se apresentarem em conjunto, pretendem, como grupo, usar a força de pressão que o ranking no Blogómetro lhes confere e, individualmente, o prazer de serem lidas por multidões (extraordinário objectivo de vida cuja compreensão me ultrapassa). Tudo isto tem como consequência inevitável que cada blogue publique catadupas de posts por dia e provoque a existência de dezenas, ou mesmo centenas de comentários a um único post, o que gera a impossibilidade de o próprio autor os ler todos e, no leitor, a frustração de ter formulado uma pergunta honesta que nunca chega a merecer uma resposta. (E já nem falo da insanidade de grande parte das Caixas de Comentários dessas poderosas máquinas…)
Nada disto era assim há três anos, nem mesmo há dois, e talvez valha a pena perceber por que razões aqui chegámos. Note-se que até aprecio blogues de mais de uma pessoa, se possível de um grupo muito pequeno e razoavelmente homogéneo, em que se sinta a «cola» da cumplicidade entre os seus membros e a preocupação de manterem um espaço de debate calmo e civilizado. Mas encontrá-los, hoje, é como esbarrar com uma agulha no fundo de um palheiro.
Enfim, contra factos valem pouco as evidências e eles, os factos, estão aí e não me dão razão.
6 comments:
Já que tenho andado por aqui a discordar de si deixo agora o meu apreço pelo post. (Fui a um desses turbo-blogs por via de uma ligação sua e fiquei embasbacado com a agressividade que ali se encontrava nos comentários entre os próprios membros do blog - se não se gostam para que blogam juntos?)
Ora bem... Exacto, ainda se isto fosse bem pago! Mas pro bono?
Por outro lado, perde-se tempo a visitar blogues de um só autor que, por o serem, não têm novos textos dias a fio; e, num blogue colectivo, pode scrollar-se o texto dos autores dos quais não se gosta - ou ler na diagonal. Quanto aos comentários, dou-lhe razão. Mas não percebo por que razão (no Blasfémias, p. ex.), os donos autorizam uma quantidade inverosímil de insultos, irrelevâncias e necedades. Dito isto, este blogue está na minha lista ... e não são precisas companhias.
Obrigada, JMG
É verdade que há blogues individuais com pouco movimento, mas, se usar o Bloglines, é avisado quando há novos posts e escusa de perder tempo a lá entrar inutilmente.
Mas eu, em princípio, não tenho nada contra blogues colectivos, mas sim quanto ao actual modo de funcionamento de alguns. Foi isso que tentei explicar.
Como só tendo a ler meia dúzia de pessoas, não sigo as tricas blogosféricas portuguesas, que tendem a ser elaboradas por gente de meia idade com computadores e que, comparadas com o que se passa nos EUA (que inventaram a tecnologia e os costumes)onde os teenagers e os intelectuais tomaram conta da crista da onda, não tem nada a ver. Pecando pela simplicidade, eu acho que as pessoas que escrevem assim e aqui fazem-no porque podem, porque querem e porque devem sentir alguma emoção de poderem comunicar os seus pensamentos com terceiros. A partir daí, o grau de excelência ou de mediocridade do que são e do que dizem devem ser aferidos por cada um. Não seguindo as regras mais estratificantes da imprensa escrita, vista e falada, aqui é mais uma selva. Mas como uma selva, pode-se encontrar um monstro ou uma jóia. Já sobre as dinâmicas das partilhas de blogues, só conheço uma e se calhar não é exemplo.
O blogue em que escreve, ABM, se é aquele que julgo, é uma das excepções que confirma a regra, pela «civilidade» nos posts e na Caixa de Comentários.
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