11.8.10

O milagre indiano?


Se há país que me impressione negativamente é a Índia. Por muitas e variadas razões que não interessam agora, mas, sobretudo, pela miséria visível a cada esquina, com ar de ser eterna, num dos BRIC’s com maior sucesso e maiores taxas de crescimento nesta fase crítica do mundo. Não se tem a mesma sensação na China ou no Sudeste Asiático: a extrema pobreza indiana parece ter-se instalado para ficar.

Porque se trata de um «crescimento predador», onde a evolução da economia «é um processo patológico que se alimenta da desigualdade social e da destruição ambiental» (como li há alguns dias, num blogue brasileiro que recomendo)? Não sei, mas talvez.

Louvada internacionalmente como «milagre económico», pela sua taxa média de crescimento rondando os 7%, este país viu aumentada a pobreza e a desigualdade, no seu enorme território, onde 42% da população vive com menos de um dólar por dia e 75% com menos de dois. Isto porque o crescimento se reflecte em apenas 1% anual no aumento do emprego, como resultado de incrementos de produtividade elevadíssimos e cortes nas despesas com salários para competir em termos de exportações.

Além disso e contrariamente à China, a Índia tem um elevado deficit externo e financia-o atraindo investimento estrangeiro directo e capitais a curto prazo, que pouco têm a ver com as necessidades da população, e só os privilegiados têm acesso ao crédito.

A abertura ao investimento estrangeiro passa pela entrega de concessões nas indústrias extractivas, florestal e turística, assim «retiradas» aos nativos – um dos aspectos mais violentos do milagre indiano.

Daí, o termo «predador»: «É, efectivamente, um complexo processo económico e político no qual os perdedores entregam a sua forma de vida a um crescimento que privilegia alguns, poucos, e não pode elevar o nível de vida da maioria da população».

A seguir, com atenção, nos próximos capítulos.

P.S. – Num comprimento de onda diferente mas complementar, ler India Needs Manufacturing (a que cheguei via Jorge Nascimento Rodrigues no Facebook).
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3 comments:

Ana Paula Fitas disse...

Joana,
Permita-me a sugestão de leitura que considero valer a pena: "O Tigre Branco" de Aravind Adiga...
Abraço

Henrique Pontes disse...

Não resisti em a saudar pelos interessantes e sempre realistas escritos que aqui cola. Saúde!

Joana Lopes disse...

Obrigada pela sugestão, Ana Paula, e pelos elogios, Henrique Pontes.