11.8.10

Quem fala assim não é gaga


«Vivemos a crise mais grave depois do 25 de Abril, num pilar essencial para o Estado de direito, e continua tudo a banhos descansadamente?»

Claro que sim: PR e dirigentes do PS andam mesmo a banhos ou esperam pela chuva que teima em não vir para passarem entre os respectivos pingos. Os que são encostados à parede lá vão afirmando que são necessárias medidas profundas e muitos pactos verdadeiros, esses sim que serão agora para valer. E nem coram de vergonha por não ousarem dizer que o rei vai nu:

«Era elementar que o procurador-geral e a directora do DCIAP se demitissem. Se não, que fossem demitidos e substituídos por quem fosse capaz de reformular a justiça».

E o PSD? Esse fala porque está na oposição. Caso contrário, estaria fugido e o PS andaria aos tiros. É a alternância, estúpido!

(Fonte)

P.S. - Aqui, em declarações à TSF.
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11 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Bom dia, Joana,

Não sei se a eurodeputada Ana Gomes pensa, como eu, que o processo decorreu como decorreu por causa do sucesso das tentativas ao mais alto nível de impedir a investigação ao envolvimento do José Sócrates.
Se pensa, disfarça bem, porque só denuncia, especificamente, a inclusão da lista de perguntas no despacho e, genericamente, a desconfiança na justiça, que ela aliás reforça repetindo a hipótese de o processo ter sido uma montagem (do PSD, para entalar o José Sócrates numa campanha eleitoral).
E se pensa e disfarça... nem sei que pensar, estará a apontar para o outro lado deixando o bandido escapar enquanto o público está de costas?

O pedido de cabeças é clássico, mas nem sempre é eficaz. Depende de as cabeças que se pedem serem as que originaram a causa do pedido.
Ela pede a cabeça do PGR e da Cândida Almeida.
E eu não tenho informação suficiente para perceber se o PGR faz parte das causas, nomeadamente se tinha poderes para fazer alguma coisa que não tivesse feito...
Neste processo, o Lopes da Mota foi apanhado, a Cândida Almeida (ainda) não, e não vi na forma como o PGR conduziu o processo ao primeiro nenhuma tentativa de o proteger (ao contrário da segunda, que parece ter ocultado as primeiras queixas dos procuradores sobre as ameaças dele, como partece ter mais tarde impedido o interrogatório ao Sócrates).
Parece-me que a raiz do problema não é o facto de haver gente na PGR que está conluída com políticos para os salvaguardar da justiça, como me parece que, neste caso, estiveram o Lopes da Mota e a Cândida Almeida, mas não tenho nada que me sugira que tenha estado o PGR, mas sim o facto de não haver mecanismos, disciplinares e criminais, para impedir essa gente de o fazer.
Ela pede a pintura do edifício, mas é na estrutura que é necessário intervir...

Ana Cristina Leonardo disse...

lá no meu tasco venho insistentemente perguntando se alguém sabe da cândida mas até agora respostas: zero.

Vitor M. Trigo disse...

Há muito que acho que se as pessoas dissessem o que querem, pensam, ou apoiam, em vez de se escudarem atrás de retóricas mal disfarçadas, tudo seria mais fácil.

O que está em causa não é a justiça, é Sócrates. Chego a pensar que se Sócrates saísse, todos se calariam e esqueceriam a obsessão pelo homem. O estado da justiça passaria para segundo, terceiro, oui quarto plano.
De facto, o nsso país e o nosso povo precisam é de acções, dispensando a retórica dos bem-instalados.

Sobre o pedido de Ana Gomes, coloco-o ao mesmo nível da patetice da revisão constitucional exigida pelo presidente Miguel Relvas e apoiada pelo porta-voz Passos Coelho - estados febris, justificados pelo calor que assola o País.

Ah, e claro, que jeito que tudo isto dá à animação dos blogs e à venda dos pasquins. No fb exite um post e respectivos comentários sobre a notícia TSF-Ana Gomes perfeitamente hilariante.

Silly Season.
Silly People.

Manuel Vilarinho Pires disse...

O seu "blog" é muito engraçado.
Eu não sei responder à sua pergunta, nem sequer conheço a procuradora Cândida Almeida.
Comecei a dar por ela, e a desengraçar com ela, por ser a mais proeminente defensora pública em Portugal do aumento dos poderes da investigação judicial no domínio da violação da privacidade e da privação da liberdade dos cidadãos investigados, leia-se, escutas telefónicas e prisão preventiva.
O teor um bocado cínico do meu comentário advém apenas desta antipatia que me suscitou desde que dei pela existência dela, que se foi intensificando com o tempo ao seguir o seu percurso de exposição mediática crescente, numa profissão que não devia trabalhar para a entrevista na TV, mas para a produção de prova no tribunal.
E o que me parece é que ela é pessoa de pescoço curtinho, até pela postura defensiva que mantém, o que leva as pessoas a apontarem preferencialmente as mãos ao pescoço do PGR, muito mais esbelto na pose descontraída que ele assume geralmente.
Espero que esta resposta, mesmo que não seja "um", seja pelo menos "zero vírgula qualquer coisa"...

Joana Lopes disse...

Vítor e Manel,
Nunca leram uma linha neste blogue sobre o Friporc (já agora, escrevo com outra grafia...). nem sobre envolvimento ou não de Sócrates, quem escondeu ou ouviu e usou o quê para que fins. Não tenho opinião e acho pouco estimulante.

Mas não gosto de viver num país em que a justiça está entregue a Pintos Monteiros e Cândidas Almeidas, pelo que VEJO e OIÇO dos próprios. Não se comportam. Ponto.

A Ana Gomes serviu-me de pretexto para o dizer. E, sim, gosto dela: tem-nos no sítio.

Joana Lopes disse...

Ana Cristina, se vir a C.A., aviso-a :-)

Vitor M. Trigo disse...

Joana,
não interpretes mal. Não me referia ao teu blog, pois se o quizesse fazer jamais utilizaria indirectas.
Quanto à Ana Gomes, pode muitas vezes ter razão, mas eu não gosto do que considero ser procura de protagonismo sistemático - O que é que causa polémica? Vamos a isso.
Por outras palavras, adora "fazer o gostinho ao dedo".
É o que penso, por isso o disse.

Joana Lopes disse...

Nada de acordo quanto à Ana Gomes, no que diz respeito à procura de protagonismo, mas é uma opinião, claro.

Não a conheço pessoalmente, reconheço que é intempestiva, o que registo com qualidade. Penso que tem uma maneira «feminina» de estar na política, sem olhar para a sombra antes de dar qualquer passo. (Espero que não passe por aqui nenhuma feminista da bayer ou sou linchada...)

Manuel Vilarinho Pires disse...

Joana,

Eu, para falar a verdade, não sei avaliar se o argumento que o PGR usa frequentemente, de não ter poderes de intervenção para garantir o funcionamento eficaz da PGR de que formalmente é o responsável, e o rosto, tem ou não tem fundamento.
Se não tem, e o usa apenas como uma desculpa para se livrar de responsabilidades do mau funcionamento da PGR, é lamentável.
Se tem, é óbvio que tem sempre disponível a solução de se demitir por não ter condições para exercer as responsabilidades que lhe estão atribuídas.
Mas também tem a possibilidade de expor aos legisladores os motivos do funcionamento deficiente da instituição de modo a poderem ser atacados e, quem sabe, conseguir que ela funcione melhor no futuro.
Não sei qual das duas vias poderá contribuir mais para uma solução... e no fundo acho que ninguém sabe, porque a vida não nos dá a hipótese de seguir duas vias paralelas cujos resultados possamos aferir para perceber se uma decisão foi boa ou má.
Isto tudo para dizer que não é claro para mim como é que chegaste à conclusão de que é uma preversão a justiça estar entregue a alguém como ele?
E que gostava de perceber, porque até pode significar que estás a usar na tua avaliação factos que me passaram ao lado...
Também podemos falar sobre a alternância ou sobre a Ana "emierrepumpum" Gomes, mas gostava de perceber isto antes.

Joana Lopes disse...

Manel,
Aproveitando a boleia da alternativa que pões: pelo que oiço e pelo que leio,ele nem diz que poderes lhe faltam, nem se demite. A boutade da rainha de Inglaterra é muito engraçada para os media, mas não chega.

Manuel Vilarinho Pires disse...

...ele tem dito que não tem poderes... podes retorquir, e é verdade, que não tem dito o que faria exactamente com eles se os tivesse... mas também não sei se dizê-lo seria a estratégia mais eficaz, os aliados não anunciaram previamente em que praia queriam desembarcar... e ele, aonde está, não tem a liberdade de especular e dizer algo que não tenha meios de provar, como nós temos... e quando parece falar demais, pode até estar a escudar-se na ironia para não esconder coisas que também não pode revelar (p.e. a sugestão de que até o PGR pode estar sob escuta)...

A quantidade de ... que usei significa que eu não sei bem o que deveria ser feito, nem tenho nada que saber.
Aquilo parece-me um mundo muito complexo e armadilhado, e a chave da solução é provavelmente o balanço certo entre a autonomia (que coloca o risco de a justiça ser manipulada pelos magistrados) e o controlo (que coloca o risco de a justiça ser manipulada pelos controladores), de que ele parece querer dizer em público que não é o que actualmente está na lei, sabendo que até os próprios legisladores podem usar a lei para manipular a justiça.
Reconhecendo a especial complexidade desta situação, continuo a não consiguir perceber porque consideras de uma forma tão fulanizada que a substituição dele contribuiria para a resolver...

PS: Freeport
A justiça deve aplicar rigorosamente o princípio da presunção de inocência até prova em contrário. Mas nós temos de formar opiniões sem provas, até por não termos a possibilidade de as obter. Por isso, podemos formular juízos errados e errar com a utilização que lhes damos, ao gostar ou não gostar de alguém, ao votar ou não votar em alguém. Não podemos é exigir meter na cadeia alguém com base no nosso julgamento incompleto.
Os diversos casos que a justiça e a imprensa transferiram do tribunal para a rua dão corpo à preversão de condenar sem provas, que a rua não as exige, e são abjectos por isso. Percebo a tua aversão a "tomar partido" neles, no sentido de formular um juízo com base nas informações parciais que são colocadas na rua para manipular o público. E partilho-a.
Mas a publicidade destes casos tem uma utilidade que não devemos desprezar, a visibilidade sobre a forma como funciona a justiça, que antes era completamente opaca.
Foi sobre o funcionamento da justiça que usei o processo Freeport como ilustração, e acho que o devo usar, para não ser condenado a pensar sem qualquer fundamento que a justiça funciona bem ou que funciona mal.