13.8.10

Se a inveja matasse


«A petição "Equivalência de Mestre (com maiúscula) aos titulares das anteriores licenciaturas com formação de 5/6 anos" já está na Net e, até ontem, tinha sido subscrita por 13 941 futuros Mestres (com maiúscula).
Pela ordem natural das coisas, seguir-se-á a exigência dos mestres de passarem a doutores "in extenso" (e a dos doutores meramente "distintos" passarem a "distintos cum laude", e estes a "magna cum laude", e estes a "summa cum laude", e por aí fora até ao infinito). É o conceito "Novas Oportunidades" levado ao limite, antes de os títulos de "Dr." e "Doutor" começarem a ser atribuídos a todos os portugueses no momento do baptizado.»
Manuel António Pina, no JL.

E acrescento eu: quem fez a 4ª classe há 40 anos devia pedir a equivalência a Matemática do 9º ano? E a Português do 12º? E assim sucessivamente?
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3 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Alto e pára o baile!

Inveja e protecção do valor de mercado do seu património de educação contra confiscações por burocratas são coisas diferentes.
Quando o Governo (ou Bologna) define que uma licenciatura é um curso universitário de 3 anos e um mestrado é um curso universitário de 5 anos, não está apenas a prescrever o percurso académico dos futuros licenciados e mestres. Está também a redefinir o valor do grau académico dos antigos licenciados e mestres, sem lhe mudar o nome.
Ao inflacionar o grau académico dos novos universitários, está a deflacionar na mesma medida os percursos académicos dos velhos universitários.

Fosse o grau académico apenas uma questão de vaidade, o assunto teria a mesma importância que tem a possibilidade de uma morena feia, pintando o cabelo, se transformar numa loira deslumbrante aos olhos de quem acha as loiras deslumbrantes.
Mas não é. Pode até ter influência na empregabilidade. Um licenciado de ontem passa hoje a ter o grau académico equivalente ao de um bacharel de ontem, pouco mais que o quinto ano do antigamente.

Pelo que não me parece inadequado, nem motivado pela inveja, mas sim pela exigência de equidade, as morenas reagirem afirmando: se essa é loura, então eu também sou, lá no fundo somos as duas da mesma cor!
Ou os licenciados de ontem dizerem: se chamam a isso mestrado, eu também tenho um mestrado, no fundo estudámos os dois o mesmo.
Não foram eles a mudar os nomes dos graus académicos, porque hão-de ser eles a pagar as favas da mudança?

Joana Lopes disse...

Eu sabia que a objecção viria e tem razão de ser: o termo «inveja» é provocatório, propositadamente.

MAS: Por um lado, não se pode estar a rever e acertar tudo, para trás, porque nunca se será totalmente justo. Por outro, o que chamarias aos antigos doutorados? Super-doutorados? Não se pode restringir a questão a Licenciados e Mestres, o problema é mais geral… Não haveria terminologia que chegasse (como o MAP refere, ridicularizando).

E em termos de empregabilidade, o mercado distinguirá, se quiser. Tal como já distingue hoje, mesmo em Portugal (para já não falar de exemplos clássicos como os EUA), cursos das diferentes universidades. Abre um jornal e verás anúncios (ainda há, embora muito poucos) que pedem, por exemplo, apenas licenciados em Direito das públicas e da Católica. Ou engenheiros do IST.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Uma parte do mercado de trabalho distingue, como sempre distinguiu: o sector privado, que está interessado em recrutar pessoas para satisfazer os seus objectivos, e não em demonstrar o seu apoio às reformas de ensino.
Mas outra parte não distingue: o sector público, gerido pelos mesmos burlões que alteraram os nomes dos graus (porque a alteração é uma burla, é simplesmente uma forma baratucha de melhorar as estatísticas).
E há sempre o risco de passar a ser legalmente considerado descriminatório usar critérios de diferenciação entre os diplomados pré- e pós-Bologna...
Quanto aos nomes adequados para dar aos antigos Doutores, não obriguemos estes prejudicados pela reforma dos nomes dos graus académicos a sugeri-los. Não foram eles que tiveram a ideias de alterar os nomes, foram os reformadores!