Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito
David Mourão-Ferreira, in Cancioneiro de Natal.
DITO PELO PRÓPRIO AQUI.
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4 comments:
ladainhas à parte ;) passo a deixar votos de Feliz Natal, Joana.
Grande abraço, Joana - apesar de me teres roubado - ou por isso mesmo - este poema que tinha pensado publicar no Vias.
Olha, aqui tens o que, entre outras coisas, nele agora leio: talvez da morte de Deus nunca ninguém volte, talvez porque a morte de Deus nunca tenha fim. E tanto tu como eu creio que passámos, ou continuamos a passar, por essa experiência sem regresso, que acaba por atravessar todos os passos que depois dela se dão.
Boa caminhada para ti nesta viagem em que nos metemos, tentando abrir caminho até que, como diz outro poema do David, seja "universal a consoada"
miguel (sp)
Maria, muito obrigada, um abraço e Feliz Natal também para si.
Miguel, mas o que te impede de pores também no Vias???
Gosto do que escreves. Continuemos a caminhada, Miguel, já que nenhum de nós nasceu para estar parado.
Um grande abraço
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