23.12.10

Ladainha dos póstumos Natais


Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

David Mourão-Ferreira, in Cancioneiro de Natal.

DITO PELO PRÓPRIO AQUI.
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4 comments:

maria disse...

ladainhas à parte ;) passo a deixar votos de Feliz Natal, Joana.

Miguel Serras Pereira disse...

Grande abraço, Joana - apesar de me teres roubado - ou por isso mesmo - este poema que tinha pensado publicar no Vias.
Olha, aqui tens o que, entre outras coisas, nele agora leio: talvez da morte de Deus nunca ninguém volte, talvez porque a morte de Deus nunca tenha fim. E tanto tu como eu creio que passámos, ou continuamos a passar, por essa experiência sem regresso, que acaba por atravessar todos os passos que depois dela se dão.
Boa caminhada para ti nesta viagem em que nos metemos, tentando abrir caminho até que, como diz outro poema do David, seja "universal a consoada"

miguel (sp)

Joana Lopes disse...

Maria, muito obrigada, um abraço e Feliz Natal também para si.

Joana Lopes disse...

Miguel, mas o que te impede de pores também no Vias???
Gosto do que escreves. Continuemos a caminhada, Miguel, já que nenhum de nós nasceu para estar parado.
Um grande abraço