23.2.11

A «ignomínia» dos europeus


Bem a propósito, no dia em que as tomadas de posição, ou a forma mitigada das mesmas, acendeu os ânimos em Portugal, um texto publicado hoje, com este título, em Presseurope:

«Esta não é a Europa que a revolução em curso no Magrebe e no Médio Oriente requer. Ao silêncio e à paralisia com que foram acolhidas as manifestações que puseram termo às ditaduras de Ben Ali e de Mubarak, na Tunísia e no Egito, vem agora somar-se o comedimento da reacção contra o massacre perpetrado pelo ditador líbio Muammar Kadhafi. Quando um tirano lança tanques e aviões contra os cidadãos que exigem a sua saída, e entre os quais os mortos se contam em centenas, é simplesmente vergonhoso falar de contenção no uso da força.

Os crimes dos últimos dias não foram os primeiros cometidos por Kadhafi mas, sim, os que perpetrou da maneira mais impudica. Perante eles, a Europa mostrou-se mais preocupada com a maneira de manter os líbios encarcerados dentro das suas fronteiras do que em apoiar cidadãos que tomaram a palavra e que apostam a vida para combater uma velha tirania. (...)

Os cidadãos que se ergueram, que estão a erguer-se, contra as respectivas ditaduras, exigindo liberdade e dignidade, precisam de receber do mundo exterior, do mundo desenvolvido e democrático, uma mensagem inequívoca de que as suas reivindicações são legítimas. E a União Europeia não pode permitir-se pronunciar-se em sussurros nem fazer bandeira dos seus medos mesquinhos.»

(Merece ser lido na íntegra aqui.)
...

7 comments:

Anónimo disse...

Um artigo admirável mas demasiado parcial. A posição Europeia em questões externas sempre foi menor do que se esperaria deste bloco económico.

A Europa tem de decidir se continua "europeia" ou "assimilada" algo que deveria ter sido explicitamente referido no artigo e não é. Falam na mesquinhez e nos medos, mas eles existem mesmo e são fonte de preocupação para muita gente.

A Europa não pode ser um albergue para "refugiados" sempre que acontece uma convulsão num país próximo, pois até hoje todos esses "refugiados" têm chegado à Europa com o estatuto de "turistas" e depois ficam, daí qual a necessidade de serem chamados de "refugiados"?

A descaracterização da Europa e falo apenas no plano cultural e social será a questão fundamental que a Europa terá de se debater nos próximos anos. Ou aceita continuar "Europeia" se fecha e regride, ou então se "assimila" aos àrabes, africanos e asiáticos, "floresce" e "dinamiza-se".

Aparentemente na Europa esse florescimento e dinamização não é bem visto pela maioria dos europeus. É um grande dilema, que ou se resolverá nesta década ou então culminará com o fim da União Europeia, algo já aceite por muitos franceses e alemães, pois sabem que a Europa que idealizaram nos anos 50 e 60 não é a Europa que têm hoje e estão preocupados com a herança que deixarão aos seus filhos, pois a agir como atualmente deixam caminho aberto para os movimentos de extrema direita surgirem, até por que eles nunca surgem por acaso. São apenas presságios que depois transformam-se e terminam de forma trágica. A História já nos ensinou isso mas em Bruxelas parecem ainda existir muitos sonhadores.

Joana Lopes disse...

Totalmente em desacordo, como é óbvio por tudo quanto tenho escrito.

«Ou aceita continuar "Europeia" se fecha e regride, ou então se "assimila" aos àrabes, africanos e asiáticos, "floresce" e "dinamiza-se".» Não, não e não!...

Regredir já regrediu, fechar-se nem conseguirá, neste mundo aberto em que tem de ser cooperante e democrática - ou é a primeira a renegar os seus próprios valores.

Vitor M. Trigo disse...

Não conheço o Martini Bianco. Seria importante conhecê-lo para poder perceber melhor o que diz.
De facto, não retiro das suas palavras a tua interpretação, Joana.
Eu tb acho que a Europa está numa crise de identidade: Com o modelo social que escolheu, envelhecendo a olhos vistos, excedentária de competências de que não necessita, e carente de outras que continua a não ser capaz de desenvolver, só conseguirá sobreviver (i.e., não se tornar 3º mundo), se não depender somente dos europeus.
Por isso eu acho que a Europa terá forçosamente de "importar" gente e competências novas. E tb penso que é assim que os líderes europeus pensam, e, por isso, querem receber os "bons" e travar a chegada dos "maus".
Foi nesta perspectiva que li o comentário de Martini Bianco, nomeadamente a frase crucial - "Ou aceita continuar "Europeia" se fecha e regride, ou então se "assimila" aos àrabes, africanos e asiáticos, "floresce" e "dinamiza-se".
Eu vejo nesta frase uma crítica negativa (na primeira parte) e uma esperança (na segunda).
Tentando explicar melhor: Se a Europa insistir em permanecer fechada está liquidada, se aceitar abrir-se poderá "florescer" e "dinamizar-se".
Pessoalmente, vejo uma alternativa: A Europa conseguir desenvolver uma política de aproximação e desenvolvimento comum com os países mediterrânicos do outro lado do lago. Mas isso, implicaria ultrapassar crenças ideológicas e pressões políticas de outros concorrentes - USA e China, a quem a ideia não deverá agrdar mesmo nada.
Espero não me ter desviado muito do tema.

Joana Lopes disse...

Admito perfeitamente, Vítor, ter interpretado mal o sentido do que Martini Bianco escreveu. Mas houve várias passagens que me levaram a tal, por exemplo mais esta: «A Europa tem de decidir se continua "europeia" ou "assimilada".=

Vitor M. Trigo disse...

Eu entendo, Joana. A minha primeira reacção foi no mesmo sentido da tua.
Depois, reli, e fiquei na dúvida.
Talvez MB possa explicar.

Anónimo disse...

Boa noite,

Se me permite Joana, gostaria de concluir o raciocínio anterior tendo em conta a sua opinião e o comentário de Vitor Trigo. Desde já as minhas desculpas pela extensão do próprio.
A minha referencia a "Europeia" e "assimilada" tem haver com o principio fundamental da Europa que foi sempre exportar os seus valores para o mundo, quer fossem os positivos (Economia livre, liberdade e Estado Social, o
progressismo dos valores da Revolução Francesa, etc) ou negativos (colonização, inquisição, etc), ao longo dos séculos, mas o que se assiste especialmente nos ultimos 20 anos é a profanação dos valores positivos que ela sempre se regeu, para dar direitos a grupos mal intencionados ou com interesses obscuros que se aproveitam das facilidades existentes para
imporem os seus valores.

Tudo isto para dizer que a inclusão de pessoas de fora numa Europa
económica e demográficamente falida é inevitável, mas há que saber onde ir buscá-los e não simplesmente aceitar quem aparece, venha com visto de turista ou de refugiado e muito honestamente não é com muçulmanos que a Europa vai lá, pois estes representam a maior oposição aos valores da
Europa - o factor religioso acima do factor Homem (muitos deles falam
sempre na "Nação islâmica" que vale infinitamente mais do que o ser
tunisino, argelino, turco, etc) Uma cultura que não conheceu o iluminismo e que continua a apresentar alarmantes sinais de um dogmatismo e obscurantismo medieval impossivel de aceitar ou sequer pactuar no século XXI. O receio e "medo mesquinho" da Europa é este, à medida que as mesquitas e tribunais islâmicos clandestinos vão florescendo na Europa e o mundo islâmico não muda ao contrário do aberto e vaive espírito europeu que aceita tudo e está a se auto-sentenciar.

Anónimo disse...

A UE tem pactuado com as ditaduras do Magrebe devido à sua
dependência energética da qual Portugal também não escapa e por essas ditaduras serem um tampão à entrada de mais ilegais na Europa. O chantagista Kadaffi passou anos a pedir dinheiro a UE para continuar a travar essas ondas. Mas elas começaram a cair. Lampedusa triplicou a "população" de um dia para o outro, amanhã será a Sicília, mais tarde a
Andaluzia, e por aí acima, porque a Europa não assume o que quer, não se impõe, e que melhor exemplo que o da Bélgica? O ninho da União Europeia está a menos de 40 dias de bater o record do Iraque, como país que há mais tempo sem governo. Sintomático do desgoverno geral deste bloco económico (faço sempre questão de afirmá-lo como bloco económico). Daí não me espantar minimamente o crescimento de partidos anti-europeístas, pois representam o receio de cidadãos face ao desgoverno vigente e à falta de estratégia.

A ajuda a esses países tem de ser feita lá, dar-lhes condições lá, para que em caso de necessidade possamos ir buscar os bons, como referia Vitor Trigo.
Assim pode haver condições para florescer e dinamizar, sem aspas. E
como distinguir os bons dos maus quando chegam centenas deles sem
qualquer identificação em embarcações degradantes? Serão só bons? Será que no meio daqueles "refugiados" não existem criminosos ou extremistas? prefiro acreditar que não, como ingénuo que sou...

A estratégia de sucesso dos EUA foi, no final do Sec XIX ter vindo buscar os cérebros à Europa Ocidental, e mais tarde à Europa Oriental e até a Israel. Não foram buscar vendedores de fruta com 4 filhos à Turquia, como a Alemanha aceita, e que custam mais à segurança social do que aquilo que contribuem em impostos, algo sabiamente referido pelo presidente do Banco alemão sendo muito criticado pela UE devido a essas declarações, como se tivesse dito alguma mentira.

Sabe, esta questão da emigração e dos medos mesquinhos da Europa, leva-me a concluir que a Europa sempre quis ser um género de Estados Unidos, mas enquanto lá existem 50 aldeias pertencentes ao mesmo Concelho e bem afastadas de inimigos, aqui temos 27 aldeias bastante antagónicas (mais as aldeias rebeldes - Pais Basco, Escócia, Irlanda do Norte, a nação flamenga, etc) fora tribos rivais do norte de Africa e do Caucáso. Logo inviável! A Europa de hoje lembra aquela pequena aldeia distante onde os
seus habitantes preocupam-se mais com a vida dos outros quando não conseguem sequer resolver os problemas que têm na sua própria casa. Com a falta de visão
estratégica, esta União Europeia implodirá ao género do que aconteceu à antiga Jugoslávia. Dou menos de 20 anos para isso acontecer.

Concluo com este video http://www.youtube.com/watch?v=PnJcsQYZEGU (em
especial a partir do minuto 39) sobre algo que acontece hoje no UK, país onde vivi dois anos e presenciei inúmeras situações semelhantes, que representam o falhanço do multi-culturalismo na Europa.