«Nós estamos num estado comparável, correlativo à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma ladroagem pública, mesma agiotagem, mesma decadência de espírito, mesma administração grotesca de desleixo e de confusão. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país católico e que pela sua decadência progressiva poderá vir a ser riscado do mapa – citam-se ao par a Grécia e Portugal. Somente nós não temos como a Grécia uma história gloriosa, a honra de ter criado uma religião, uma literatura de modelo universal e o museu humano da beleza da arte.»
Eça de Queirós, Farpas (1872)
(Daqui)
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3 comments:
Engraçado que, conhecendo o texto, nunca tinha reparado que Eça se refere à Grécia como católica, que já não era no tempo dele há cerca de 800 anos.
O Eça foi um dos mais genuínos hipócritas que Portugal pariu. O Eça disse... O Eça dizia... O problema é que o que ele dizia não batia com o que fazia. Provinciano, disse dele Pessoa e, sem margem para dúvidas, carregado estava de razão. Escrevia bem? Sim, escrevia, mas isso não deixa de fazer dele um pulha.
O Eça sempre em dia!
"As Farpas" lixaram-me a vida no verão de 92. Como explicar a uma mãe, que me ouvia rir às gargalhadas no quarto, que estava a estudar? É que estava mesmo: "As Farpas" eram obrigatórias para os exames de admissão à universidade católica!
Parecia que estava a ler o jornal do dia! Lá estava o Cavaco, o Soares, o Eanes...
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