1.7.11

O poker europeu



Quando vi a alegria com que Merkel anunciou a «vitória» do novo pacote de austeridade no parlamento grego, não pensei em poker, como Ferreira Fernandes, mas em pura manifestação de perversidade. Julgo que até a vi esfregar as mãos de contente e não esquecerei tão cedo aquele sorriso - mais ou menos vampírico.

«O póquer, não sei se repararam, começou por se apresentar em torneios de madrugada nos canais por cabo e agora já abre telejornais às 8 da noite. Um patrão da União Europeia com ar de "all in", isto é, aposto tudo porque tenho quatro ases, diz que "a Grécia tem de ceder porque não tem plano B". Os deputados gregos, embora suspeitando que o homem estava a fazer bluff, ensaiaram uma votação que poderia levar à ruína qualquer viciado: seguiram o conselho do cara de póquer mas tão à tangente que também podiam não ter seguido. Enfim, desta vez ninguém foi expulso da mesa, a jogatina tem para mais uns meses. Angela Merkel, com cara de quem gosta mais das máquinas de slot, ficou eufórica como se lhe tivessem saído três cerejas alinhadas. Entretanto, nas ruas de Atenas, as jogadas (estas sendo mais de lerpa) continuaram com pontapés no tampo e as cartas deitadas ao ar... A Europa está assim, vivendo o que já está escrito, num provérbio, como definição de jogo: "Numa aposta há sempre um tolo e um ladrão." Mas é tão emocionante, não é? Não é.»
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5 comments:

Fada do bosque disse...

Pois eu tive mais vontade, de ver uma bala enfiada no sorriso do cherne.

Niet disse...

A engenheira Merkel- a chancelerina que não dorme a trabalhar...- gosta mais das Civilizações eslavas e orientais...do que da greco-latina. Como ela- e os seus apaniguados- sabem muito mal fazer contas,social e humanamente falando,toca de accionar um " projecto " alternativo à U.E. para satisfazer o seu eleitorado e conter a hegemonia política de Sarko e Obama, pois claro. E qual é esse plano? Reforçar, estreitar, " fundir ", as relações económicas e culturais com a Rússia, numa fase agora já muito adiantada; para depois, juntos, Alemanha/ Rússia, se decidirem pelo "cerco" da China...e do resto do Mundo, claro. Niet

Joana Lopes disse...

Talvez, Niet, mas há outras hipóteses em cima da mesa, com a da constituição de uma união dos nórdicos, com ou sem Reino Unido.
Colapso da UE? Mais do que provável...

Niet disse...

Carissima Joana Lopes: Que vitalidade, que multiplicidade temática, que força indómita,sempre atenta e inteligentemente desdobrada para o porvir. É essa, a sua grande postura, que nos deixa maravilhados e siderados. Descobri uns sites muito alternativos e, quase, anti-imperialistas. Por exemplo, o www.infoshop.org. Através do Counterpunch também se lá vai na via da descoberta...
Sobre a tese do Euro Nórdico- um espaço económico europeu setentrional,em oposição ao Euro-PIIGE..., a coisa é uma perversa construção/ tentativa da ala mais conservadora e imobilista do capitalismo alemão, chefiada pelo empresário das lixívias, o sr. HenKel, que se quer associar com os seus " camaradas " holandeses, dinamarqueses, suecos e finlandeses. O pior é que o ferro, o níquel, os metais nobres, os diamantes, o petróleo e o gaz estão( muito e de qualidade!) na Rússia...E valem muito para o futuro do capitalismo, claro. Niet

Joana Lopes disse...

Muito obrigada, Niet.