24.8.11

Rico, eu?


Era inevitável que alguém se lembrasse de perguntar ao português mais rico (e que «rico português», também…) se está disposto a seguir o exemplo dos seus camaradas franceses que anunciaram ontem a predisposição de darem uma contribuição especial para a resolução da crise.

O diálogo com Américo Amorim terá sido curto e esclarecedor: «Eu não me considero rico. Sou trabalhador.»

Portanto, ninguém enriquece à custa do seu trabalho ou os ricos não trabalham. Acusação que nem o mais assanhado dos ideólogos da História alguma vez ousou fazer, mas que passa a verdade lapidar escrita nas nossas estrelas. Simples boutade, obviamente, mas que diz muito sobre a impunidade assumida e a paroquialidade reinante neste pobre país. (Alguém imagina um dos milionários franceses que não quis assinar o apelo, porque os houve, a dar, publicamente, um argumento destes?)

Manuel António Pina não leu certamente esta declaração antes de escrever a sua crónica de hoje, ou não a teria desperdiçado. A propósito do gesto dos milionários franceses, afirma, num belo registo de humor, que «a ganância dos ricos não tem limites», eles que «agora cobiçam até o pouco que os pobres têm, a servidão fiscal, e exigem pagar, como eles, impostos».

«Quem já tenha visto um porco andar de bicicleta talvez não se surpreenda, mas eu, que já vi uma bicicleta andar de porco, ainda não caí em mim. Cairia em mim, sim, se visse o voluntarioso Governo de Passos Coelho do "imposto extraordinário" sobre pensões e salários, mas não sobre juros e lucros, e dos cortes nos subsídios de miséria de desempregados e indigentes anunciar, como o neoliberal Sarkozy, um imposto sobre rendimentos anuais superiores a um milhão de euros.

Imagino então Amorins, Belmiros, Alexandres Soares dos Santos e restantes "25 mais ricos de Portugal", cujas fortunas cresceram, com a "crise" alheia, para 17,4 mil milhões virem, os invejosos, reclamar a Passos Coelho: "Tribute-nos, que diabo!, reformados e trabalhadores não são mais que nós", repetindo com Buffett:"Já é tempo de o Governo levar a sério isso dos sacrifícios para todos.”»

Ironizemos, pois. A indignação está de férias no Algarve.
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4 comments:

Anónimo disse...

E, no entanto,«Quando a esmola é grande, o pobre desconfia». O que moverá estes senhores num tão magnâmige gesto? Pode ser teoria demasiado conspirativa, mas tudo o que vem «deles» deixa-me de pé atrás,tanto mais quanto mais solidário...É mais fiável a incrível declaração do Soares da Costa - essa a gente percebe...
Um abraço, Joana
Helena Pato

Joana Lopes disse...

Lena, ontem escrevi sobre isso.
Abraço

Anónimo disse...

Oops!Enganei-me: foi o Amorim, não o Soares da Costa. Este era lá pessoa para fazer uma tal declaração!
Helena Pato

Septuagenário disse...

Pedir aos ricos portugas que paguem a crise é a mesma coisa que pedir fatura ao cigano na feira.

Se possível, "saimos todos da reta"!