Foi notícia ontem: uma cadeia de televisão holandesa, alegadamente cheia de boas intenções, acaba de estrear um reality show cujos participantes são cinco jovens estrangeiros, dos 15 aos 22 anos, que vivem há anos naquele país, mas que terão de o abandonar em breve por lhes ter sido recusado asilo político.
Ganhará 4.000 euros (e uma viagem a uma ex-colónia holandesa nas Caraíbas!...) quem demonstrar nível mais elevado de conhecimentos sobre a terra de onde vai ser expulso. Mais ou menos: «Lamentamos, mas este dinheirinho vai ajudá-lo a reinstalar-se na Tchetchénia.»
A Holanda é pródiga em iniciativas deste tipo (ou não fosse a pátria do Big Brother…), mas a falta de senso, e de sensibilidade, deveria ter limites e estes parecem ter sido perdidos. Vale tudo desde que seja espectáculo – e nós já estamos habituados a que tal aconteça, o que é mau e nos faz mal.
João Paulo Guerra comenta bem, no Económico:
«E é assim: dramas da vida passaram a ser vistos de palanque, no sofá da sala ou no banco da cozinha, por milhões de egoístas de pantufas que, não decidindo nada sobre a própria vida, conquistam o direito de presenciar ao vivo e de votar por telefone sobre o destino de outros, um pouco mais desvalidos. Chico Buarque cantou que "a dor da gente não vem no jornal". Pois não, mas pode dar na televisão, em hora de ponta das mais pérfidas emoções.»
«Ninguém notou,
Ninguém morou na dor que era o seu mal,
A dor da gente não sai no jornal.»
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5 comments:
Realmente a ideia do programa é ridícula mas uma coisa é certa, a Holanda necessita de tomar medidas urgentes se quiser manter a ideia que algumas pessoas que nunca foram lá ainda detêm sobre o país.
Estive em Roterdão recentemente e foi impressionante no sentido negativo, ao pedir informações acerca de alguns sítios de que tinha interesse em visitar, em especial o estádio do Feyenoord, quase todas as pessoas com quem falei não eram holandeses e o seu inglês era demasiado fraco (a generalidade dos holandeses nativos fala um inglês quase perfeito).
Aparentavam ser todos de Marrocos ou da Argélia, pois até nas vitrines das lojas os anuncios estavam escritos maioritariamente em árabe. Assustador. Fiquei com a impressão de que nem estava na Holanda.
Europa, quo vadis?
Caro Jorge Moreira, dois ou três pontos.
Primeiro, segundo a notícia, o programa pretende (mal, no meu entender) chamar a atenção para o drama destas pessoas, não para o problema de haver emigrantes a mais.
Segundo, estamos a falar de pedidos de asilo POLÍTICO, não de emigrantes económicos.
Terceiro, queira-se ou não, a mobilidade veio com a globalização e ninguém a impedirá, nem à força. Além disso, se os europeus têm poucos filhos, o problema é deles e não é de outros, certo? Finalmente, qual é o «drama» de termos outros povos na Europa? Esta é e será diferente, certamente. Não andaram os europeus a fixarem-se por outras partes do mundo durante séculos (Américas, África, etc.)? Chegou a vez de outros, de modo diferente, por muito que lhe custe…
A europa vai ficar sem europeus.
A América tambem ficou sem apaches e o mundo não acabou.
Ora bem Septuagenário, era aí que eu (também) queria chegar.
Estive a ler a notícia do Público e a ideia deste reality show em contribuir com 4000 euros para facilitar o regresso dessas pessoas aos seus países, atendendo aos países de onde vieram é quase que uma chacota para eles próprios. Talvez se tivessem chegado à Holanda como "emigrantes económicos" de forma ilegal livrar-se-iam daquela infeliz exposição e estariam neste momento a prosperar e tranquilos da vida.
No entanto e lendo por aqui os comentários não poderia deixar de dizer que o comentário do sr. Jorge Moreira até é legítimo em algumas questões.
A desilusão que Roterdão lhe provocou, seria a mesma que muita gente teria, caso fosse fazer um safari no Quénia e chegados lá vissem apenas meia-dúzia de quenianos, duas ou três girafas e meia duzia de leões e que pelos percursos feitos pelas montanhas encontrassem casas de pasto alentejanas, restaurantes italianos, lojas de chineses, casinos, etc. Falo no safari do Quenia como poderia falar na Tailândia, na Índia ou em outro destino exótico qualquer. seria ou não seria uma desilusão?
A questão e tendo em conta a linha de pensamento dos comentários seguintes, seria lamentável conceber o Quénia desta maneira e a culpa seria dos grupos económicos e quem diz o Quénia poderia dizer o Pólo Norte ou no Butão ou noutra sociedade pitoresca qualquer, mas quando se trata da Europa, já se pode conceber tudo e mais alguma coisa, sob o pretexto da Europa ser estéril e de precisamos de imigrantes "económicos". Precisamos de imigrantes sim, mas e que tal se a Europa se preocupasse primeiro com a sua alarmante estirilidade? Poderia a médio prazo resolver alguns desses problemas.
Como vou viajar para Amesterdão na próxima semana, vou tentar me abstrair ao máximo do que esta notícia e comentários me fizeram pensar.
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