O mérito do texto de Manuel António Pina, no JN de hoje, é juntar num só parágrafo uma sucessão de casos que nos caíram literalmente em cima no espaço de poucas semanas, sem que a reacção a cada um deles nos dê sequer tempo para pensarmos no significado global da situação. Mas ela é grave e adensa-se a cada dia que passa: nunca a nossa democracia esteve tão ameaçada, desde o 25 de Abril.
«Infiltração de agentes provocadores em manifestações instigando à violência para justificar a repressão (o próprio director nacional da PSP confirmou que "polícias à civil se integraram como manifestantes e provocadores em funções de defesa pública na manifestação"); divulgação de calúnias sobre vítimas de repressão, como fez o porta-voz da PSP anunciando falsamente que um cidadão espancado e detido na manifestação de 24 de Novembro era "procurado pela Interpol"; intenção do Governo - para já frustrada pela CNPD por inconstitucional, mas de que o ministro Miguel Macedo diz "não desistir" - de permitir à Polícia a videovigilância dos cidadãos e atribuir ao ministro poder absoluto na matéria sem qualquer fiscalização independente da sua conformidade à Constituição e às leis; afirmação do director do Observatório de Segurança de que a Polícia deve respeitar a lei "mas..."; defesa pelo presidente da comissão governamental para definição do serviço público de TV do controle da informação "a bem da Nação"; apreensão de propaganda política...
Já não são apenas as pituitárias daqueles que viveram a experiência do Estado policial salazarista, particularmente sensíveis a certos sinais. Hoje mesmo os que ingenuamente pensam que direitos, liberdades e garantias são direitos adquiridos têm motivos para se interrogar se a suspensão da Democracia preconizada por Manuela Ferreira Leite não estará já em curso.»
(O realce é meu.)
A crónica de Paulo Moura, na Pública de ontem, não podia vir mais a propósito.
(Clicar e ampliar.)
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