Leio mais uma notícia vinda da Grécia e interrogo-me sobre os possíveis efeitos da concretização do que terá sido decretado, para já a título experimental e apenas na área da restauração. Num esforço para diminuir a evasão fiscal, reconhecida como muito grande naquele país, o governo decidiu que os consumidores a quem seja recusada uma factura têm o direito de sair sem pagar.
Não é dito como é que cada uma das partes prova os factos. Com testemunhas? Com câmaras de vigilância sonoras?
Além disso e sobretudo: no estado caótico em que se encontra a sociedade grega, lançar uma parte dos cidadãos contra uma outra, de pequenos comerciantes neste caso (porque é deles que se trata, pelo menos para já), pode ser engenhoso, e nem sei se deliberado, mas é certamente perigoso: «musculados» como os gregos são, e desesperados como se encontram, é bem possível que as discussões facilmente imagináveis não se limitem a alguns empurrões. Não será certamente razão para início de uma guerra civil, mas é brincar com o fogo. (Ou não? Haverá cumplicidade entre clientes e comerciantes? Não faço ideia.)
E se algo de semelhante fosse decidido em Portugal, onde essa cumplicidade para pequenas fugas ao fisco cresce de dia para dia? Julgo que tudo acabaria sem problemas, com o dono da tasca a fazer um desconto, a oferecer um café – ou a dar a facturazinha... A «refundação» não passará por aqui.
(Fonte da notícia)
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1 comments:
Uma falsa questäo.
Corria o ano de 1997, e eu estava em Itália em Erasmus, era a primeira vez que vivia fora de Portugal.
Fui ao café, paguei, fui-me embora. Oiço o caixa aos gritos a correr atrás de mim, vou ao encontro dele e pergunto "Faltou pagar alguma coisa?", ao que ele, esbaforido, respondeu "Näo, esqueceu-se de levar a factura..." e entregou-ma.
Na latiníssima Itália central, em 1997.
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Em Portugal a lei também diz, e há muito, que sem factura pode-se sair sem pagar. E?
Pois.
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