Estou desde ontem em Cali, terceira cidade da Colômbia, dançarina por excelência (serão daqui os campeões mundiais de salsa, que vi ontem em ensaios), no meio de plantações de cana-de-açúcar a perder de vista. Estranhamente, 70% da população é negra ou mestiça. Ou talvez não: trata-se de uma herança do tempo em que multidões de escravos, trazidos de África, aqui vinham parar precisamente para se ocuparem da dita cana-de-açúcar.
A umas dezenas de quilómetros, encontra-se Buga, centro de peregrinação à Basílica do Senhor dos Milagres. Com uma fé aparentemente à prova de balas, para aqui convergem colombianos de todas as paragens, que fazem promessas e agradecem benesses. O «Museo del milagroso» é extraordinário: milhares de placas forram longas paredes de várias salas, com agradecimento de todas as espécies.
Mas o mais curioso, e muito ingénuo, é o conjunto de «ex-votos», objectos que «pagam» desejos realizados, como tantos que se vêem em Fátima e que aqui enchem vitrinas. Destaco dois exemplos: uma placa em que um bebé, agora com um mês, fala na primeira pessoa e agradece ter sobrevivido, apesar de prematuro, e diz estar já «forte e bendito»; e um casaquinho de recém-nascido com um letreiro em que os pais estão gratos por o filho ter nascido com os cinco sentidos…
Santa inocência que refresca a alma e ajuda a esquecer, por uns dias, os sonhos molhados do doutor Gaspar e os dislates do senhor Borges.
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